Penafiel. Hospital garante reforços. Enfermeiros dizem que doentes continuam a chegar

Só em três horas, esta quinta-feira de manhã, o Centro Hospitalar Tâmega e Sousa precisou de internar mais 20 doentes. “Não consigo perceber por que motivo se instala uma zona para a realização de testes drive-thru à porta de uma urgência que está em rutura”, questiona João Paulo Carvalho, presidente da secção regional do norte…

Perante a pressão crescente nas urgências do Hospital de Penafiel, a semana termina com a garantia de que estão a ser tomadas medidas e com novas estruturas de apoio a ser preparadas e ativadas para reforçar a resposta na unidade que serve 12 concelhos da zona do Baixo Tâmega e Vale do Sousa, o epicentro do aumento de casos de covid-19 no Norte do país.

Depois de nos últimos dias não se ter pronunciado publicamente sobre a situação que se vive no hospital, que motivou um pedido de ajuda interno à ARS Norte e levou profissionais a relatar falhas na assistência aos doentes e as Ordens dos Médicos e Enfermeiros a pedir um reforço da resposta e equipas, a administração do centro hospitalar deu ontem a conhecer as medidas tomadas nas últimas semanas e outras que estão agora a ser efetivadas. Este fim de semana fica operacional uma estrutura exterior de apoio à urgência, com 500 m2 e ontem foi instalado um posto de realização de testes covid em modelo drive-thru à entrada do hospital, num terreno cedido pela autarquia de Penafiel, sendo que até aqui havia também um hospital de campanha no exterior na unidade, que chegou a ter picos de 800 pessoas na urgência, das quais muitas recorreram à urgência só para a realização do teste à covid-19, como revelou ao SOL o presidente do centro hospitalar há duas semanas, quando a unidade fez um primeiro apelo à população para só se deslocar ao hospital em casos verdadeiramente graves. “O Centro Hospitalar está ciente do empenho, dedicação e profissionalismo dos seus colaboradores num momento sem igual na história da instituição e tudo temos feito, e continuaremos a fazer, para que seja possível dar resposta à população, num pico de uma pandemia que não é uma situação normal”, disse em comunicado a unidade, garantindo que tudo fará para salvaguardar os cuidados de saúde à população. A garantia de que estão a ser tomadas medidas já tinha sido deixada durante amanhã pela ministra da Saúde, que reconheceu que no hospital se tem vivido uma situação “muito grave”. “Depois do pico máximo de doentes internados, chegou a atingir os 235, hoje o número é já inferior a 190 e prevê-se que continue a diminuir nos próximos dias, a menos que surja mais alguma situação inesperada de infeção concentrada de grandes dimensões na comunidade e a qual não conseguimos antecipar”, indicou o centro hospitalar.

Para a Ordem dos Enfermeiros, que durante a semana denunciou ao i uma situação de rutura na capacidade de resposta e o desespero das equipas, lamentando o silêncio dos responsáveis e que um hospital já sem capacidade continuasse a admitir doentes – na urgência chegaram a estar internados 38 doentes sem vagas nas enfermarias, segundo os enfermeiros sem estar garantida a separação entre doentes infetados e outros que aguardam resultados de testes e com falhas na distribuição de medicação a horas e alimentação – as medidas agora anunciadas são insuficientes perante a pressão que já ontem continuou a verificar-se na unidade.

 “A melhoria notou-se de manhã, quando tinham 183 doentes internados no centro hospitalar, fruto das transferências de doentes que foi possível fazer no dia anterior, mas por volta das 12h já tinham novamente 202 doentes internados. No espaço de três horas, foi preciso internar mais 20 doentes. Enquanto não se conseguir diminuir a afluência à urgência do hospital, o hospital continua a encher”, insiste João Paulo Carvalho, presidente da Secção Regional Norte da OE, afirmando que os cuidados intensivos estão também no limite. “Não tinham vagas, foi necessário ventilar um doente e teve de ser transferido de urgência e a indicação que temos é que foi complicado encontrar uma vaga. Só assumiremos que as coisas estão melhores quando for algo sustentado no tempo”, diz o enfermeiro, defendendo a necessidade tentar encontrar alternativas para a afluência à urgência. “Algumas medidas poderão ajudar, mas são precisos profissionais para trabalhar nessas estruturas e não consigo perceber por que motivo se instala uma zona para a realização de testes drive-thru à porta de uma urgência que está em rutura. É levar o problema para a entrada do hospital, quando há várias autarquias que têm estes locais de testagem em pavilhões ou outros edifícios municipais”, conclui.