Uma ministra que faz mal à saúde……

Marta Temido lembra, irresistivelmente, como já foi escrito, o erro de ‘casting’ que foi Constança Urbano de Sousa, a infeliz ministra que ocupava a Administração Interna, quando ocorreram os incêndios de Pedrógão Grande. 

Seja por incapacidade ou insensibilidade próprias, seja por limitações no espaço de recrutamento de fiéis, seja ainda por obediência à bizarria das quotas de género, a verdade é que António Costa conseguiu rodear-se de um governo numeroso, mas genericamente fraco, pior do que o anterior que chefiou depois de ter inventado a ‘geringonça’.

Com poucas exceções, é penoso ouvir o discurso de ministros em setores nucleares, e de outros investidos em pastas criadas sem a menor justificação. Mas, entre todos, Marta Temido tornou-se imbatível, quer pelo grau de exposição à conta da crise sanitária, quer pela insegurança que evidencia à medida que a pandemia alastra, quer ainda pelos seus preconceitos ideológicos num setor como o da Saúde que deveria estar à margem deles. 

De pouco adianta por a Bandeira Nacional a meia haste, em Belém, em dia de Finados, decretar o luto nacional, «como forma de prestar homenagem a todos os falecidos, em especial às vítimas da pandemia da doença covid-19», sem cuidar dos vivos, por falta de planeamento do SNS, em desejável articulação com o setor privado e social.

Marta Temido lembra, irresistivelmente, como já foi escrito, o erro de ‘casting’ que foi Constança Urbano de Sousa, a infeliz ministra que ocupava a Administração Interna, quando ocorreram os incêndios de Pedrógão Grande. 
Neste caso, porém, além da sua visível dificuldade em lidar com um problema sério de saúde pública – que lhe deveria exigir absoluta prioridade para o doente, em vez de privilegiar as suas devoções esquerdistas – Marta Temido mais parece um ‘cavalo de Troia’ do PCP ou do Bloco de Esquerda, infiltrada no governo. 

Foi esse, aliás, o ponto de partida para ter rasgado um projeto de revisão da Lei de Bases da Saúde, saído da uma comissão coordenada por Maria de Belém, que a antecedeu no cargo, e que não se inibiu de criticar publicamente a nova ministra por esta ter achado, sem cerimónias, o trabalho ‘inadequado’. 

Partidária da gestão pública dos hospitais, tornou-se logo notada pela sua hostilidade em relação às parcerias público-privadas na Saúde, algumas das quais terminaram sem renovação, apesar dos bons resultados. 
E este é o seu ‘calcanhar de Aquiles’ perante a crise pandémica. Forçada a admitir uma escapatória na Lei de Bases para não inviabilizar totalmente as parcerias, a ministra apressou-se a enfatizar que «o que a lei diz é que pode ser autorizada a entrega de hospitais e centros de saúde do SNS, através de contratos de gestão, a outras entidades. Ou seja, há uma permissão, uma autorização para. (…) precedido de uma preferência clara no sentido da gestão pública».

Ou seja, na ótica de Marta Temido, cabe aos privados uma situação subalterna e de favor, o que é revelador da sua alma política, ‘gémea’ de Pedro Nuno Santos, da ala esquerda do PS.

Ora, negligenciada que foi a preparação para enfrentar uma segunda vaga da epidemia, a ministra e o primeiro-ministro correm agora atrás do prejuízo, sob a pressão do aumento exponencial do número de óbitos e de novos infetados diários, já com o Bloco a advogar a requisição civil, coerente com a sua sanha contra os privados. 

Os ‘ziguezagues’ do Governo, desde as festividades do 1.º de Maio na Alameda à Festa do Avante!, ou à Fórmula 1 no Algarve deram nisto. Aligeiraram-se as restrições consoante os interesses político-partidários em jogo, e, em contrapartida, perseguiram-se celebrações familiares e de amigos, para alimentar telejornais, enquanto os transportes públicos, urbanos e suburbanos, continuaram apinhados nas ‘horas de ponta’.

A gestão errática da pandemia, desgastou a confiança dos portugueses, que começaram já a penalizar, segundo as sondagens, tanto António Costa como Marcelo Rebelo de Sousa, ambos em queda de popularidade. Não admira.

Claro que a situação portuguesa é pressurosamente comparada por vários media – em especial nas televisões –, com o registo de vítimas e de infetados nos EUA ou no Brasil, sem haver o cuidado de ressalvar a proporcionalidade em termos populacionais. 

No dia em que escrevemos, Portugal figurava a vermelho no mapa mundo de infetados por covid-19, tomando como referência a segunda quinzena de outubro. Emparceiramos na Europa com a Espanha, França, Bélgica, Itália ou Reino Unido, os piores, em contraste com a Alemanha e a Suécia, que têm conseguido moderar a progressão da doença, e muito longe da ‘performance’ bem sucedida da Finlândia ou da Noruega. 

O ‘milagre’ português é estarmos na linha da frente em valores médios de infetados, algo que é sistematicamente escamoteado por governantes e media. 

Perante esta quadro, não é de estranhar que o número dois do PS, José Luís Carneiro, tenha advertido que o atual momento «é critico e vai tornar-se ainda mais critico nas próximas semanas». 

O problema é que o Governo deixou andar Marta Temido em ‘roda livre’. Se a tivesse substituído teria poupado o país ao seu fervor de capela, e às suas trapalhadas (acolitada por Graça Freitas, que desbaratou a sua credibilidade técnica). 

 A crise sanitária é demasiado séria para ser tratada em tom pespineta, inspirada nos tiques do socialismo cubano ou venezuelano…

Nota em rodapé: Foi um Presidente da República ‘travestido’ de primeiro-ministro que a RTP entrevistou esta semana, a pretexto do ‘estado de emergência preventivo’. 

Durante a longa conversa em família, que de entrevista teve pouco, Marcelo Rebelo de Sousa empenhou-se em poupar o governo, assumindo «os erros cometidos» na crise sanitária e chamando a si as responsabilidades «supremas» na gestão da pandemia. Mas, o que mais sobressaiu foi o perfil do antigo analista político, com o jornalista a fazer de ‘ponto’. António Costa e Marta Temido devem agradecer-lhe. 

Jamais um Presidente foi tão longe a culpar-se por asneiras do Executivo. Embora seja verdade, também, que nunca nenhum Presidente se fez tão próximo. O país perdeu um árbitro ‘supremo’, mas ganhou uma originalidade… 

No caso, trata-se de um árbitro que, não podendo usar o ‘cartão vermelho’, impedido pelas regras constitucionais em vigor no ‘retângulo’, guarda também o ‘cartão amarelo’ no bolso, porque «o Presidente da República é o maior responsável pelos erros cometidos». Afinal, na política como no futebol – com lugar cativo em Belém desde os Champions – a culpa do que corre mal em campo é sempre da arbitragem… Quem diria.