Novas medidas vão aumentar desemprego e pobreza

De acordo com Eugénio Rosa, no terceiro trimestre de 2020, o desemprego atingiu 655 100 trabalhadores, mas apenas 230 mil recebiam o subsídio. Novas medidas vão agravar ainda mais esta situação.

O número de desempregados ultrapassou os 655 mil trabalhadores, mas apenas 230 mil receberam o subsídio de desemprego no terceiro trimestre do ano. O alerta foi dado por Eugénio Rosa ao garantir que “o apoio aos desempregados diminuiu e a pobreza alastra no país”, acrescentando que as “as medidas tomadas pelo Governo devido à segunda vaga da covid vão causar um maior afundamento da economia e mais desemprego”.

O economista lembra que para compreender a diferença entre desemprego oficial e desemprego real é preciso conhecer a forma como o INE calcula o desemprego oficial e dá uma explicação: “Só considera como desempregados os trabalhadores que não têm emprego e que procuraram emprego no período em que fez o inquérito”, diz, acrescentando que “os desempregados que não procuraram emprego na altura em que o INE fez o inquérito, que designa por ‘inativos disponíveis e indisponíveis’, não são incluídos pelo INE no número oficial de desempregados que divulga no fim de cada trimestre, apesar de serem desempregados”.

Feitas as contas, segundo Eugénio Rosa, “o número de desempregados que o INE não tem incluído no número oficial do desemprego foram 169 900 desempregados no primeiro trimestre e no segundo trimestre foram 337 500, enquanto no terceiro trimestre foram 251 mil desempregados”. Esta situação, de acordo com o mesmo, “mostra a diferença grande entre o desemprego oficial divulgado pelo INE e o desemprego real, aquele que efetivamente existe no país”.

O economista vai mais longe ao garantir que a crise causada pela pandemia começou a ter “efeitos dramáticos na economia, com o fecho das empresas, a reclusão das pessoas em casa e os despedimentos” a partir de março de 2020. Segundo o INE, o desemprego oficial foi de 352 400 no quarto trimestre e de 278 400 no segundo. “Nesta altura foi denunciado que a queda continuada nos números do desemprego oficial do INE não refletia a realidade, em que o desemprego real tinha disparado. Depois de denunciada tal situação, o INE aumentou, no terceiro trimestre, o desemprego oficial em 125 mil, mas ainda deixando de fora desse número 251 mil desempregados (inativos disponíveis e não disponíveis)”, afirmou, acrescentando que “a diferença entre a taxa de desemprego oficial e a taxa de desemprego real aumentou significativamente entre o quatro e o terceiro trimestre. No quarto trimestre, essa diferença era de 2,9 pontos percentuais (6,7% e 9,6%) e no terceiro trimestre era já de 4,2 pontos percentuais (7,8% e 12%). É reduzindo artificialmente o desemprego oficial que se esconde aos portugueses a verdadeira dimensão do desemprego e da pobreza, e mesmo o seu alastrar”.

Pobreza sobe De acordo com Eugénio Rosa, o desemprego é a causa mais importante da pobreza no país. “Mesmo antes da pandemia, 47,5% dos desempregados estavam no limiar da pobreza. A maioria dos desempregados não recebem o subsídio de desemprego porque a lei os exclui”, salienta.

E dá números: “No terceiro trimestre, o desemprego aumentou em 39 mil, mas os que recebem subsídio de desemprego subiram apenas oito mil. No segundo trimestre, 36 em cada 100 desempregados recebiam-no”. Esta situação, de acordo com o economista, mostra que “o desemprego aumentou, mas o apoio aos desempregados diminuiu. Logo, a pobreza cresceu”.

E o responsável vai mais longe ao considerar que “o agravamento da pandemia e as medidas tomadas vão determinar inevitavelmente um novo afundamento da economia e, por conseguinte, o aumento significativo do desemprego”, acrescentando que “na economia não há milagres: as consequências são certas, como foi referido no início da pandemia, em março”.

Eugénio Rosa lembra que, nessa altura, “foi como se a economia não existisse e como se a crise de saúde pública causada pela covid fosse de curta duração”, desvalorizando-se as consequências em termos de emprego destruído, de perda de rendimentos e no alastrar da pobreza.

E considera que a criação de um apoio extraordinário aos desempregados que perderam o subsídio de desemprego e o aumento das pensões mais baixas em dez euros, apesar de entender que são “medidas importantes”, “não são suficientes para combater a pobreza, que está a aumentar”.

Aponta dedo ao teletrabalho Eugénio Rosa afirma ainda que o teletrabalho – que já abrangia 681 900 trabalhadores no fim do terceiro trimestre –, além de provocar a desorganização das empresas e dos serviços públicos, contribuiu ainda para “a diminuição da capacidade de resposta e produtividade, pela dimensão que tem e pela falta de organização, planeamento e competências que exige mas não existem. E também causa uma diminuição acentuada do consumo interno, o que é visível por quem percorra as ruas das cidades, com estabelecimentos abertos mas vazios de clientes, o que levará a falências e fecho de inúmeras empresas, acelerando de uma forma significativa o aumento do desemprego”.

E, de acordo com o economista, “se associamos a tudo isto uma queda das exportações portuguesas – no segundo trimestre, as exportações diminuíram 39,5% quando comparado com o período homólogo de 2019 – previsível devido à implementação, pelos respetivos Governos, de medidas semelhantes nos países para os quais Portugal mais exporta (Espanha, França, Alemanha), é fácil de concluir a situação dramática em que cairão mais centenas de milhares de famílias portuguesa, causada pela redução da atividade, pelo desemprego e pela consequente perda de rendimentos”.

Segundo o responsável, “é necessário tratar a economia da mesma forma que se trata a saúde, investindo muito mais e atempadamente no SNS para garantir não só a defesa da saúde pública, mas também o funcionamento da economia. A incapacidade de planear e organizar atempadamente quando se sabia que iria dar-se uma segunda vaga, e nada ou pouco se fez – só agora se aprovou a contratação de mais médicos e enfermeiros quando isso devia ter sido feito há mais tempo – e a falta de investimentos no SNS estão a contribuir muito também para afundar a economia e vão obrigar a recorrer aos grupos privados de saúde, com custos elevados para o erário publico. E a proposta de OE 2021 não resolve a falta de investimento no SNS)”, conclui.