Sindicatos da PSP apontam dedo ao Governo por falta de candidatos

Mil vagas para cursos de novos agentes não foram preenchidas. Sindicatos exigem medidas rápidas ao Governo e falam de baixos salários.

Pela primeira vez, há menos candidatos a polícias do que vagas de ingresso, de acordo com as forças sindicais. Apenas 793 concorreram num total de 1000 lugares disponíveis e a Organização Sindical dos Polícias (OSP) já manifestou o seu desagrado, apontando o dedo ao Governo e sublinhando que não tem de ser a Polícia de Segurança Pública (PSP) a sacrificar-se na totalidade para inverter esta tendência.

“Não cabe à PSP fazer tudo para conseguir recuperar a atual falta de atratividade da profissão, mas sim ao Governo português valorizar e defender-nos profissionalmente e não fazer de nós fantoches”, começou por dizer a OSP em comunicado. “Somos um mal necessário, mão de obra barata que mantém Portugal um dos países mais seguros do mundo, velhos de low cost, cidadãos de segunda que com imposições hierárquicas executamos a nobre tarefa de segurança pública, mesmo indignificados por todos”, atirou ainda.

Além disso, o sindicato enfatizou o facto de a existência de poucos candidatos poder vir a significar, no futuro, falta de segurança em Portugal, fazendo também alusão ao vencimento dos polícias que deixa muito a desejar.

“O infindável devassar da nobre função dos polícias irá repercutir-se futuramente na segurança e economia nacional. Mais um orçamento de estado, mais do mesmo para a PSP e seus profissionais – zero. Estamos caídos num poço sem fundo. Aumenta-se o ordenado mínimo nacional e não se vislumbra intenção de rever os 789 euros mensais do profissional de polícia que corre risco, tem desgaste rápido, trabalha em turnos de 24 horas, domingos e feriados. A continuar assim em futuro próximo não serão 793 candidatos aprovados, simplesmente não haverá quem se candidate para agente da PSP”, concluiu a OSP.

A Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP), por seu turno, aponta igualmente os baixos salários como um dos motivos para a falta de candidatos e exige também medidas rápidas ao Governo, mostrando revolta pelo facto de “nada estar a ser feito” para combater a falta de candidatos aos cursos.

Direção Nacional da PSP preocupada
O facto de não ter sido possível preencher todas as vagas para o curso de novos agentes da PSP é motivo de preocupação para a Direção Nacional da PSP, que apontou a “falta de atratividade” da profissão como uma das justificações.

“Obviamente que a PSP vê com preocupação o facto de, na sequência do processo de recrutamento e seleção para o 16º CFA [Curso de Formação de Agentes], não ter sido possível preencher todas as vagas disponíveis, o que, devido a vários motivos, indicia alguma falta de atratividade da função policial que urge recuperar e que a PSP tudo fará para conseguir”, começou por referir, indicando, porém, que o processo de recrutamento e seleção foi ajustado ao “contexto de pandemia de covid-19” que Portugal atravessa atualmente – o confinamento e o encerramento de diversas infraestruturas desportivas nos últimos meses “dificultaram e limitaram a preparação física dos candidatos”.

A Direção Nacional da PSP quis deixar claro, no entanto, que os critérios de seleção e as provas prestadas pelos candidatos nos cursos “não sofreram qualquer alteração ou beneficiação, relativamente ao regulamento de acesso, nomeadamente no referente à prova designada ‘Prova cultural’”.