Pandemia ideológica

Confesso que a entrevista de Marcelo Rebelo de Sousa à RTP; sobre a Pandemia de Covid 19, me desiludiu. E tanto, quanto achei boa a intervenção mais enxuta do Presidente e anunciar o novo Estado de Emergência.

por Pedro d'Anunciação

Pareceu-me ver Marcelo mais preocupado em defender-se e defender os seus pontos de vista do que em defender Portugal da doença. Para além daquela coisa assinalada por Ricardo Araújo Pereira, de ele ter feito as perguntas e respostas por si, dispensando completamente o entrevistador – que surgia ali bem deslocado.

Porque é que o entrevistador não parecia saber coisas dadas pelos jornais? Por exemplo, só nesse dia soube, por um jornal, que os turistas nossos visitantes, por muito infectados que andem, podem passear com relativo à vontade, e assim espalharem a pandemia. Enquanto os portugueses, mesmo comprovadamente sem infecções, desde que estejam em zonas controladas, ficam sujeitos a algum controlo. E como não foi prevista a pandemia entre os idosos dos lares? Pela mesma razão que Marcelo, num entusiasmo bem maior do que o primeiro-ministro, concordava em que ‘porventura’ muito de poderia ter feito mais cedo, para combater a pandemia.

A certa altura, pareceu-me que o PR está a fazer andar as coisas sem decisões demasiado tempo, quando são necessárias decisões. Fiquei com a ideia de estar ainda a ouvir os sanitários que continuam a ignorar as experiências, e a defenderem acções que levem à imunidade de grupo – coisa que infelizmente ninguém terá conseguido ainda, apesar de pagar pela tentativa custos elevadíssimos em vidas. Depois, continua-se demasiado focado na Europa e Américas, para dizer que a infecção se espalha. E como não havia de se espalhar, quando as pessoas estão mais preocupadas em não maçar quem não quer medidas ideológicas? Porque os jornais dão conta de países, sobretudo asiáticos, em que com máscaras e fechados a estrangeiros, conseguiram debelar a Pandemia, borrifando-se então para a Economia.

A nossa directora geral da Saúde, pela falta de confiança que inspira (talvez por ir tão afincadamente atrás de estruturas como a OMS e a UE), também se revelou um caso a ver, que o PR não foi capaz de ver. Será que se pode dar autorização a um gestor de um recinto que necessita de fazer lucros para vender milhares de bilhetes, e a seguir criticá-lo por não deixar os compradores desses mesmos bilhetes devidamente afastados? Ou a tontice pega-se com enorme facilidade?

Ai Marcelo, Marcelo, mais valia que não tivesse dado essa entrevista a si próprio.

E falar na entrevista de Costa à SIC. Só retive a perte em que ele se mostrava indignado por a Pandemia se ter adiantado aos seus projectos, porque o entrevistador, melhor preparado, o salientou, perguntando ao primeiro-ministro: não foi avisado (da antecipação da pandemia)? Porque, afinal, se os Governos não ervem para prever os cenários menos previsíveis, para que servem então? Nos bons tempos, qualquer um, centrista e sensato, serve para seguir cegamente Bruxelas.