Os passos trôpegos do homem elegante

Zózimo era diferente: lia Machado de Assis, tinha fome de aprender e o garbo de um autêntico Lorde inglês

Dizem que os grandes mestres do futebol jogam de cabeça erguida. Uns como galos de capoeira; outros como fidalgos de Cervantes. Qualquer derrota, por mais pequena que seja, no campo ou na vida, acabrunha-os e fá-los definhar. Fere-os no orgulho à maneira de uma adaga que penetra, ali por entre a terceira e quarta costela do lado esquerdo, que é, mais ou menos, o lugar onde bate o coração. A derrota é, para eles, a metáfora da morte.

Na radiosa manhã de 21 de dezembro de 1977, um Volkswagen carocha entrou pela Estrada do Mendanha, no bairro do Campo Grande, na zona oeste do Rio de janeiro, em excesso de velocidade. O veículo era rijo mas não aguentou o embate contra um poste de iluminação. O condutor saiu pela porta desengonçada e tentou firmar a passada. Caiu de borco. Quando a polícia surgiu para tomar conta da ocorrência já partira de mão dada com a Sinistra Ceifeira. O seu nome era Zózimo Alves Calazans. Um daqueles que jogava sempre de cabeça erguida.

Paulo César Oliveira Santos, escreveu um dia sobre a morte de Zózimo: «E, naquela parte do espaço onde tudo é felicidade, entre arquibancadas de nuvens e gramados de azul celeste, anjos e querubins têm mais um motivo para sorrisos e aplausos: acaba de entrar em campo, com seu futebol elegante e ágil, Zózimo Alves Calazans». Talvez Zózimo esteja algures, numa planície de saudade, trocando umas bolas com anjos e querubins, coisa que se adequava ao seu estilo lúcido, seleto, sofisticado. Nascido em Salvador, no dia 19 de Junho de 1932, chegou com 17 anos ao_Rio para jogar no_São Cristóvão. Não tardou a assinar contrato profissional com o Bangu e passou a trabalhar num lugar cujo nome também assentava como uma luva de pelica aos requebros da sua personalidade: Moça Bonita.

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