Os Açores e a ‘dor’ da mudança de poder

Sejamos claros sobre o que, de facto, aconteceu: o PSD apresentou uma coligação de governo para os Açores com o CDS e com o PPM (apenas com estes partidos). A iniciativa Liberal e o Chega acordaram viabilizar este governo. E não há nenhuma condição racista, xenófoba, fascista ou, que de algum modo, coloque em causa…

O verdadeiro motivo para a contestação em torno do novo Governo Regional dos Açores foi a perda de poder do Partido Socialista. Depois valeram todas as desculpas e argumentos falsos para justificar essa posição.

Sejamos claros sobre o que, de facto, aconteceu: o PSD apresentou uma coligação de governo para os Açores com o CDS e com o PPM (apenas com estes partidos). A iniciativa Liberal e o Chega acordaram viabilizar este governo. E não há nenhuma condição racista, xenófoba, fascista ou, que de algum modo, coloque em causa os direitos humanos. O que haverá será um governo liderado pelo PSD e um programa de governo que traduzirá as propostas do PSD e os contributos dos restantes partidos referidos. Já agora, não existe nenhum acordo nacional do PSD com o Chega ou com outro partido.

O PS deteve o poder nos Açores durante 24 anos obtendo as maiorias que lhe permitiram governar. Desta vez, os açorianos não lhes confiaram essa maioria e não conseguiu uma maioria parlamentar (necessária nas regiões autónomas) que viabilizasse o governo. Naturalmente que custa perder o poder, mas em democracia é assim.

O que o Partido Socialista demonstrou foi ‘mau perder’. Em democracia os eleitores têm total legitimidade para tomarem as suas opções políticas. Ninguém é um cidadão ‘menor’ por fazer determinada escolha partidária. No Parlamento todos os eleitos têm igual legitimidade. Quem não aceita estas regras não acredita na democracia.

Mas o mais extraordinário é assistir às acusações do PS sobre supostos (e falsos) acordos do PSD com partidos extremistas quando foi precisamente o PS que os fez. Primeiro, em Lisboa, em 1989, quando se coligou com a UDP, com o PSR e com o PCP, e depois, no governo, num acordo com o Bloco de Esquerda e com o PCP.

Sejamos, também aqui, claros: o PS não hesitou em assinar acordos e receber apoios de partidos com características ideológicas contrárias à democracia, à liberdade individual, à iniciativa privada, que contestam as alianças internacionais em que Portugal está envolvido e que têm suporte histórico e defendem regimes ditatoriais que violam os direitos humanos. Mas sejamos honestos: nem por isso o PS colocou em causa, até agora, os valores da democracia, dos direitos individuais ou da economia liberal.

Apenas a desorientação de perder o poder e o desespero argumentativo justificam que o Partido Socialista ignore o que fez e acuse o PSD de atos que este não praticou.

Mas o spining tem resultado: comentadores e até alguns militantes do PSD apressaram-se a amplificar a tese da capitulação do PSD a posições xenófobas e racistas sem verificarem o que de facto aconteceu, contribuindo, por preconceito ou por oportunismo, para alimentar uma realidade paralela.

Na verdade, há muito que está instalado na opinião publicada um preconceito ideológico que alimenta uma versão monopolista da história e da política, que promove a criação de cercas ideológicas aos partidos à direita do PS e que tem expressão recorrente.
 
Em 1979, por exemplo, aquando da constituição da Aliança Democrática entre o PSD, o CDS e o PPM (aí sim, um acordo nacional), foram várias as vozes (entre as quais de socialistas) que acusavam aquela coligação de ser um perigo para a democracia e de representar a extrema direita. Também aqui a realidade veio desmontar essas acusações.

O PSD tem uma história de respeito pelas liberdades e um pensamento político humanista inequívocos e tem propostas para a sociedade conhecidas. Mas tem também um líder com uma visão clara sobre o posicionamento político e insuspeito de extremismos. Seguramente que não será pela mão do PSD que os extremismos vingarão.