Populismo, incompetência e elitismo, em Estado de Emergência

Por isso não sou alarmista sobre a pandemia. Estou, isso sim, muito alarmado com o impacto económico, social e político que este caldo está a cozinhar.

Pedro Antunes
Empresário

Eu sou dos menos alarmistas em relação ao vírus. Pelos números a que tenho acesso, estou convencido que há mais mortalidade este ano por deficiências do SNS e pelo excessivo foco na COVID19. Poderei estar errado e por isso uso a máscara sempre que não consigo garantir o distanciamento social, mesmo ao ar livre. Prefiro não colocar as outras pessoas em risco, caso esteja errado. Acho que é uma posição razoável. Não sou negacionista, isto é um vírus perigoso, mas também não acho que tudo se resume ao número de infetados, internados ou de mortos por COVID19.

Não sou alarmista sobre a pandemia. Estou, isso sim, muito alarmado com o impacto económico, social e político que se está a começar a sentir.

Antes da pandemia já tínhamos populismo, na verdade sempre tivemos à “esquerda” de forma mais ou menos envergonhada. Agora temos de forma aberta e orgulhosa à “direita”. Na mesma semana que se vota um novo Estado de Emergência (EE), com definições demasiado abrangentes e sem grande noção da estratégia que o governo iria adotar, estes populistas andaram a rasgar vestes contra o EE. Ganharam tempo de antena, mas no dia da votação apenas PCP, PEC e IL votaram contra. Os populistas abstiveram-se todos.

Dias depois alguns tinham até a distinta lata de aparecer ao lado dos empresários da restauração, como se os estivessem a defender. O aproveitamento político dos nossos populistas está a funcionar. Quem não se sente representado e sofre, foge sempre para os extremos com mais dinamismo, que melhor sabe aproveitar as falhas do “pandemicamente correcto”.

Claro que isto só é possível pela incompetência que as instituições do Estado têm demonstrado; em especial a DGS e Governo, nas pessoas da Ministra e do Primeiro Ministro.

Em março confinámos semanas a fio, com restrições enormes às nossas liberdades. O objetivo era “achatar a curva”, “preparar o SNS para o inverno”. O primeiro objetivo foi conseguido (?), até que o inverno chegou e o vírus teve o comportamento anunciado. Surpresa(?): o sacrossanto Serviço Nacional de Saúde não estava preparado. Agora o governo não sabe o que fazer e as medidas são avulsas e sem noção das consequências.

Este governo, e a maioria da oposição, está numa espécie de torpor do “pandemicamente correto”. Não quer ir para confinamento total, sabe que a economia não aguenta (isso custa votos), mas acha que tem de fazer medidas que soem fortes, por muito inúteis que sejam. Não há qualquer base científica, não há qualquer estratégia de longo-prazo. Há apenas a esperança da incompetência: ter fé numa intervenção divina e exógena; vacina ou cura, vindas do estrageiro.

Depois temos comentários indecentes de quem não sofre, nem produz, mas de alguma forma é “elite”, ou “intelligentsia” neste país. Transcrevo o seguinte tweet:

“não há como ver malta q foge aos impostos e ao pagamento da segurança social sempre q pode – e pode bastante – a exigir mto empolgada cenas ao estado. com certeza absoluta, entao. nosotros pagamos impostos e tsu é para isso, nem têm d agradecer. somos burros porq pagamos, não é?”

Julguemos apenas o conteúdo, o processo de intenções, a falta de noção do que é ter um negócio, um sonho a falir por causa de um conjunto de regras incoerentes. Esta é uma das pessoas da nossa elite intelectual e jornalística, a reforçar o “pandemicamente correto”.

Portugal sempre teve alguma elite que despreza o trabalho, que não percebe o que é uma empresa, o que é risco, nem sequer tem grande curiosidade em conhecer. Essa elite suporta, nos seus escritos e círculos de influência, uma classe política em grande medida medíocre, com poucos conhecimentos técnicos e desligados do que é a realidade da cabeleireira da Massamá, ou do mecânico de Viseu. Só conhecem os banqueiros e o grande capital, que classificam como horríveis, ou os fazem parte do sistema.

Não há caldo mais viral do que uma elite que despreza o povo que a suporta e uma classe política medíocre e sem estratégia ou visão, que dá espaço ao populista do momento.

No meio deste caldo, António Costa anda aos papéis. Não sabe para onde se virar. É o homem ao leme e navega esta onda populista como ninguém… até “parece” um líder político.