Cuidados intensivos perto do limite

Ocupação das unidades no Norte superou os 91%, quando os 85% são considerados o patamar de segurança para responder a emergências.

O número de doentes com covid-19 internados em cuidados intensivos, a área em que é mais complexo expandir o número de camas, atingiu este domingo um novo máximo. De acordo com o boletim divulgado ontem pela DGS, o número de doentes em UCI chegou aos 476. Nos próximos dias, a previsão continua a ser de um aumento de internamentos, sendo que os hospitais poderão ficar esta semana com mais do dobro de doentes com covid-19 internados em UCI do que tiveram no pico da epidemia em abril, quando o máximo foi 271 doentes com covid-19 a precisar de suporte vital.

Na região Norte, que viveu o maior aumento de casos ao longo das últimas semanas, a apreensão levou já o presidente do Colégio de Medicina Intensiva da Ordem dos Médicos, José Artur Paiva, a admitir que a capacidade de cuidados intensivos na região vai ficar esgotada no espaço de cinco dias. Este domingo superava-se já os 90% das camas, tendo sido ultrapassado os 85% considerados ideais para preservar capacidade de resposta de emergência a todos os doentes críticos. A nível nacional, a ocupação global de cuidados intensivos ronda os 86%, indicou.

Tanto em Lisboa como na região Centro os hospitais, com um aumento de doentes com covid-19 internados, têm vindo a ter de dedicar mais camas à covid-19. Os Hospitais de Coimbra esgotaram a capacidade inicial de 83 camas e também em Lisboa o Hospital Beatriz Ângelo ficou sem camas disponíveis em enfermaria. Os hospitais estão a conseguir transferir doentes para o Hospital Militar de Lisboa e ontem o primeiro-ministro e a ministra da Saúde assinaram um acordo com dez Misericórdias dos distritos de Braga, Porto e Vila Real, para a realização de consultas médicas e cirurgias do Serviço Nacional de Saúde, numa altura em que se prevê o progressivo cancelamento de atividade programada nos hospitais.

A DGS passou a usar uma nova plataforma de recolha de dados sobre os casos confirmados de covid-19 que permitirá um reporte mais sólido do que aconteceu nos últimos meses e levou ontem a incluir no total de casos confirmados no país 4375 casos que não tinham sido contabilizados no início da epidemia. Com os casos divulgados nas últimas duas semanas, Portugal passou ontem uma incidência de 700 casos por 100 mil habitantes a 14 dias, sendo a situação mais crítica no Norte, com 1128 casos por 100 mil habitantes. Questionado pelo i sobre em que zonas do país existe neste momento transmissão comunitária (casos em que não se conhecem cadeias de transmissão) e locais com mais atraso na realização de inquéritos epidemiológicos, o diretor de Serviços de Informação e Análise da Direção-Geral da Saúde indicou que existe uma grande heterogeneidade, mas que com os níveis de infeção atuais, tudo aponta que exista transmissão comunitária em vários pontos do país.