O que é o Desafio do Homem Pateta, o jogo suicida ‘à solta’ na net?

Um novo jogo suicida online anda à solta na Internet. Através do TikTok, do Facebook, do Instagram e do Discord, crianças e jovens podem cair na armadilha dos chamados curadores do Desafio do Homem Pateta. Este já provocou uma vítima mortal em Itália e alguns portugueses jogam-no. O i infiltrou-se para conhecer os meandros deste…

Homem Pateta ou Jonathan Galindo é o nome do novo desafio suicida online que surgiu no outono de 2019, época em que foi criada a primeira conta associada àquele que viria a ser um perigoso jogo cujos principais alvos são as crianças e jovens. Desde que a primeira alusão ao desafio emergiu na rede social TikTok, milhares de réplicas foram criadas – essencialmente no Instagram, no Facebook e no Discord – para difundir os 50 desafios tipicamente estabelecidos pelos curadores, pessoas designadas pelo(s) fundador(es) do desafio, no âmbito da hierarquia do jogo, para contactar e ludibriar, via redes sociais, aquelas que poderão vir a ser vítimas. Porém, neste desafio, mais recente a vertente da extorsão sexual é acentuada.

Origem do nome do desafio Em 2016, emergiu o Desafio da Baleia Azul. Este termo refere-se ao fenómeno das baleias encalhadas, supostamente suicidas. Este mamífero pode atingir as 177 toneladas e os 30m de comprimento, sendo considerada o maior animal do mundo, mas não é suicida (a causa apontada para o fim da sua vida é a poluição dos oceanos), o que torna esta analogia inválida. Por outro lado, em 2018, o Desafio Momo foi abordado à escala mundial. Momus (Momo em grego) é a personagem principal de duas fábulas de Esopo (famoso escritor da Grécia Antiga) e a personificação da sátira e do escárnio. Neste desafio viral mais recente, o nome conecta-se profundamente com o avatar que os curadores adotaram para as suas contas nas plataformas. A variação Jonathan Galindo é encarada pelos órgãos de informação internacionais como uma escolha aleatória para captar o público hispânico, embora, à semelhança de Momo – que também é uma referência a alcunhas atribuídas a meninas que entram na puberdade, uma brincadeira com a expressão “pequeno pêssego” – Galindo, em espanhol, possa dizer respeito a um “pequeno galo” e, na origem germânica da palavra enquanto apelido, a alguém que possui a característica da liderança natural. 

Que imagem é esta? Os curadores recorreram à utilização de fotografias captadas por Samuel Canini, pseudónimo de um cosplayer e artista plástico norte-americano que, entre 2011 e 2013, uniu as características da personagem Mickey Mouse às do Pateta, ambos do universo Disney. “Os trolls da Internet apoderaram-se da minha imagem sem consentimento. O meu objetivo nunca foi ver a minha imagem ser usada para este propósito”, começou por assumir Canini em entrevista ao i. O artista disse que “nunca” foi contactado diretamente por uma conta associada ao desafio, questionando:“O que é que eles teriam para me dizer?”. Defendeu que “comparando com tudo aquilo que se passa em redor do mundo, em 2020, esta situação parece muito inferior”, adiantando que “as pessoas querem promover o drama e o caos quando, na verdade, precisam que alguém as guie”. Considera que está aborrecido por que “os curadores não querem saber minimamente do mundo e ainda adicionam combustível às chamas”, sendo que nunca teve o propósito de “assustar ou intimidar crianças que já enfrentam um futuro incerto”.  Estes alegados criminosos “não têm qualquer imaginação porque, se esse fosse o caso, teriam criado uma imagem própria”, mas não é por isso que deixará de lutar pelos seus direitos. “A certo ponto, terei de reclamar a minha imagem e esclarecer tudo na justiça. Por agora, limito-me a insistir, através do Twitter, que as pessoas não devem envolver-se com estes tolos”, rematou, revelando que “deitar abaixo todas as contas seria impossível e uma perda de tempo, acima de tudo”, constatando que “se os curadores se aborrecerem” ou as vítimas se afastarem dos mesmos, “esta tendência desaparecerá tal como todas as outras”.

“Olá. Como é que o teu dia está a correr, querida?”. Esta foi a primeira mensagem que uma das contas associadas ao desafio enviou a Ana Gomes da Silva, de 17 anos. A personagem fictícia através da qual o i conseguiu entrar no universo dos desafios online de cariz suicida não perdeu tempo e avançou com “Quero jogar”, ao que obteve a resposta “A sério? Queres mesmo?”. O curador, com 18 anos, explicou que contrariamente aos desafios da Baleia Azul e Momo, o do Homem Pateta não conduz ao suicídio nem a comportamentos autolesivos. Mostrando-se intrigada, a adolescente elucidou que não estava a compreender o propósito do rapaz na medida em que, na teoria, os curadores devem ajudar os jogadores a morrer. “Não. Esse é um jogo velho. Os seguidores do Jonathan Galindo criaram um jogo mais seguro. Alguns curadores utilizam o sistema antigo, do suicídio, mas eu, o Jonathan e os nossos 120 parceiros criámos um novo paradigma”. Aceitou iniciar o jogo porque, afinal, a história de vida passava pelo relacionamento negativo com os pais, a frustração perante a atenção que estes prestam ao irmão mais velho e o namoro tremido: fatores que facilitam a forma como os perpetradores do incitamento ao suicídio online interagiram com ela. Esta biografia vai ao encontro das características que o investigador e psicólogo norte-americano Keith Harris percecionou como inerentes às vítimas destes desafios: “habitualmente são jovens, têm problemas nas relações interpessoais, são pouco bem-sucedidas na escola e têm vontade de encontrar um escape, vendo a morte como uma forma de terminar o sofrimento”, disse.

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