Da era da mentira à falência do Ocidente?

Hoje, agravadas as disfunções de origem (logo apontadas por Churchill), a democracia está a deixar-se matar a si própria e a deixar matar o povo. Regras e procedimentos que sacralizámos não permitem enfrentar e vencer os dois inimigos mortais da Europa e do mundo: as pandemias e a cruzada exterminadora insaciável do islamismo

«Le démocrate est comme fasciné par ceux qui méditent sa perte».
Sartre [ninguém o podia dizercom mais propriedade]

 

1. Consequência e não causa, Trump é um pico de visibilidade num processo a que um dos espíritos brilhantes que acontecem na humanidade, intérpretes de constelações de sinais que a todos escapam, chamou Das Unbehagen in der Kultur (Mal-Estar na Civilização… ocidental, o que Freud não poderia então ter dito).

2. «Deem-nos mentiras!», gritam à esquerda e à direita! É o resultado de uma realidade insuportável de vazios sem esperança, refletida na ascensão de demagogos à esquerda e à direita, e de gurus, numa alargada new age sincrética onde se confundem fanatismo político, anti-ciência, desequilíbrios hormonais e afloramentos esotéricos. Desistência do homem ocidental na ‘escalada do Homem’. Vontade de implosão suicida, um desejo de morte, de um tudo ou nada.

3. Terão agora os democratas aprendido com o episódio Trump? Que a soma de minorias não faz uma maioria nem revela as aspirações de uma nação? Que negros+latinos+cubanos+mulheres+homossexuais+meios culturais, um conjunto de tribos sádicas de uns contra os outros, não forma a essência de um país? Que, sendo Trump pessoal e politicamente detestável, olhou para as aspirações das classes mais pobres e beneficiou-as? Durante os três primeiros anos do seu mandato a pobreza desceu para os níveis de 1959 – o que explica o número de votos impressionante que teve entre os latinos e mesmo os negros. A travagem na imigração criou falta de mão-de-obra e obrigou a aumentar os salários. São factos que os democratas (e os republicanos) não devem esquecer.

A América real não é New York, Boston ou Los Angeles, como não é o que agradaria ao NYT ou à CNN. Tal como a França não é Paris, nem Portugal é a realidade que o BE quer que seja e o Público ou o Expresso refletem.

Se a esquerda e a direita liberais não compreenderem agora esse fenómeno complexo de que o trumpismo foi (e é) uma manifestação, os Trumps chegarão galopantes às democracias. Democracias?…

4. A democracia foi concebida e erguida para o bem do povo. E resistiu mesmo aos que, embora a queiram destruir, alberga tolerante.

Hoje, agravadas as disfunções de origem (logo apontadas por Churchill), a democracia está a deixar-se matar a si própria e a deixar matar o povo.

Regras e procedimentos que sacralizámos não permitem enfrentar e vencer os dois inimigos mortais da Europa e do mundo: as pandemias e a cruzada exterminadora insaciável do islamismo.

5. Em Portugal é o deslizamento do PS para o politicamente correto e a órbita da extrema-esquerda. Uma metamorfose que culminará com a chegada de Pedro Nuno Santos a secretário-geral. A candidatura imprópria de Ana Gomes foi uma sonda atirada para um PS amnésico dos seus ideais, origem e combates. Um PS em vias de se tornar uma espécie de MDP do BE, aproximação que reduziria ao residual a sua expressão eleitoral. Como aconteceu ao PS francês. De facto, porque votar na cópia podendo-se votar no original?