Covid-19: preparados para a terceira vaga?

Menos aceitável, quando já se antecipava a ocorrência de uma segunda vaga, é que não se tenham tomado, atempadamente, as medidas que corrigissem as fragilidades verificadas na primeira fase.

O problema da gestão da pandemia em Portugal não é tanto das alterações sucessivas de medidas e de critérios. É, muito mais, um problema de confiança, de transparência na gestão da informação, de capacidade de antecipação e de concretização atempada de ações.

Enquanto se trata ainda de afinar o combate à segunda vaga, quando esta já era previsível no final da primavera, já se antecipa a possível terceira vaga logo no início do próximo ano. Se é dificilmente aceitável a impreparação verificada nesta segunda vaga, equivalente impreparação na próxima vaga será intolerável.

 Ninguém estava preparado para a pandemia de covid-19. Por todo o mundo se assistiu à adaptação a esta circunstância excecional. Portugal também foi apanhado desprevenido e o combate tem sido construído e afinado no dia-a-dia. 

O Governo tem tido todas as condições políticas para a gestão da atual crise, nomeadamente na viabilização do Estado de Emergência em que o PSD tem tido um papel decisivo e as críticas que este partido tem feito, em regra, não são sobre o que o Governo faz, mas sobre o que devia fazer e não faz ou sobre o que faz tarde. A atitude institucional e política revela responsabilidade e deve ser, por isso, valorizada.

O que tem então falhado? Os sucessivos ajustes nas medidas implementadas geram equívocos e dúvidas mas num cenário em que não há experiência a situação é compreensível. Se há crítica a fazer é que muitas medidas têm pecado por tardias. 

Menos aceitável, quando já se antecipava a ocorrência de uma segunda vaga, é que não se tenham tomado, atempadamente, as medidas que corrigissem as fragilidades verificadas na primeira fase. Desde os equipamentos de saúde anunciados e que ainda não se concretizaram, passando pelo reforço e formação de meios humanos que faltou, à contratualização com meios privados ou do setor social a que resistiram por razões ideológicas, provocando grave prejuízo para a prestação de cuidados de saúde covid e não covid, até à incapacidade de intervir nos lares de idosos ou ao reforço tardio das equipas de rastreio – fator essencial para evitar o crescimento descontrolado de contágios.

Agora é, finalmente, aplicado um sistema de sinalização do risco de contágio para orientar a gradação de medidas a aplicar. Mas seria mais adequado olhar para a situação, não concelho a concelho, mas ao nível de zonas de influência, nomeadamente ao nível das comunidades intermunicipais e áreas metropolitanas em razão das interações que se verificam.
Caso se verifique uma terceira vaga, a experiência (e os erros) deve servir para fazer melhor. A resiliência do sistema de saúde deve assegurar cuidados de saúde adequados e os centros de saúde e hospitais não podem ficar paralisados ou monopolizados pela pandemia, prejudicando a prestação de outros cuidados de saúde.

A perspetiva da existência de vacinas para a covid-19 exige capacidade para planear, preparar e para as administrar de forma eficaz. O que se passou com a vacina da gripe não se pode repetir. As expectativas (também criadas pelo Governo) obrigam a que não se falhe. Seria importante colocar a experiência logística das Forças Armadas Portuguesas na operação de distribuição e administração da vacina, garantindo eficácia e evitando a sobrecarga dos serviços de saúde.
Estas são algumas das críticas e sugestões que têm sido apresentadas numa perspetiva construtiva: antecipar, planear e coordenar mais e melhor.

O Governo tem obtido todas as condições institucionais e políticas para agir. Importa que tenha a capacidade de corrigir e intervir eficazmente porque o seu sucesso será o sucesso de todos.