A ‘traição’ de Joe Biden à causa ambientalista

Duas das nomeações para a administração de Joe Biden já colaboraram com empresas que exploram combustíveis fósseis. Ativistas questionam se estes podem prejudicar esforços ambientalistas.

Entre as centenas de nomeações para a equipa que acompanhará Joe Biden nos quatro anos em que este estiver no poder como Presidente dos Estados Unidos algumas escolhas foram recebidas com desconfiança e acusações de «traição».

Entre os novos membros da sua comitiva está o congressista democrata Cedric Richmond, que irá ocupar o lugar de conselheiro do novo Presidente e diretor do Gabinete da Casa Branca para o Compromisso Público, que no passado trabalhou com grandes indústrias de combustíveis fósseis, o que parece ser contraditório com as promessas ambientalistas de Biden, um dos bastiões da sua campanha eleitoral.

O Movimento Sunrise, grupo de jovens ativistas ambientais, viu a nomeação de Richmond como uma «traição». «Sentimo-nos traídos, a primeira nomeação que o Presidente Biden faz é a de uma pessoa que aceitou mais doações da indústria de combustíveis fósseis durante a sua carreira do que qualquer outro democrata», referiu o diretor-executivo da organização, Varshini Prakash, citado pelo The Guardian.

O congressista, cujas ligações à indústria energética renderam cerca de 341 mil dólares (287 mil euros) à campanha de Biden, é o quinto político mais «beneficiado» entre os democratas da Câmara dos Representantes.

Richmond já revelou ter opiniões divergentes do restante partido no passado, colaborando com republicanos, durante a crise climática que abalou o Louisiana, para aprovar o aumento de exportações de combustíveis fósseis e promover o desenvolvimento da rede de oleodutos.

Prakash acusou o congressista de «ficar em silêncio e ignorar os encontros com as organizações da sua própria comunidade enquanto esta era afetada pela poluição e a subida do nível das águas do mar».

Mas Richmond não é a única escolha que não tem um passado impoluto. Michael McCabe, que ocupará um cargo na equipa de transição da Agência de Proteção Ambiental norte-americana, foi consultor na DuPont, segunda maior empresa química do mundo, numa altura em que «a empresa tentava a todo o custo obter uma licença para a utilização do C8», denuncia a ativista Erin Brockovich (que ganhou um grande processo à Pacific Gas and Electric Company por contaminação de águas e foi representada no grande ecrã por Julia Roberts) ao The Guardian.

«Trata-se de um produto tóxico e que é usado em tudo, desde roupas impermeáveis, tecidos resistentes às manchas, embalagens para alimentos e frigideiras antiaderentes, e que está associado a problemas de fertilidade, cancro e lesões no fígado», escreveu Brockovich, acrescentando que um professor de saúde pública avisou que este químico pode diminuir a eficácia da vacina contra a covid-19.

A equipa de Biden inclui meio milhar de nomes, com uma constituição – 52% são mulheres e 46% dos homens são negros, latinos e asiáticos – que procura responder às promessas de campanha de unir uma América estilhaçada pela anterior Administração. E não só, refere o comunicado da equipa de Biden: «[São nomes] que demonstram o compromisso do Presidente eleito em construir um governo que se pareça com a América».