Vacina da covid-19: Idades dependem das ‘bulas’

Grupos prioritários para receber vacina devem abranger 800 mil portugueses. PM diz que “vidas não têm prazo de validade”.

Vacina da covid-19: Idades dependem das ‘bulas’

Os planos nacionais para a vacinação contra a covid-19 só serão conhecidos com mais detalhe na próxima semana, mas já há uma primeira indicação sobre quais serão os grupos prioritários para receber as primeiras doses da vacina, que a esta altura se espera que cheguem ao país em janeiro.

Depois de ser noticiada uma versão preliminar da proposta da Direção-Geral da Saúde (DGS), Francisco Ramos, coordenador do grupo de trabalho encarregado de definir a estratégia para a vacinação, esclareceu que a proposta é incluir utentes de lares, os profissionais dos lares, profissionais de forças de segurança e idosos com doenças severas que a covid-19 pode agravar.

Segundo o SOL apurou, as doenças em causa e o nível de severidade são alguns dos aspetos que ainda estão a ser delineados, mas este grupo abrange mais de 800 mil portugueses e não foi definida uma exclusão com base na idade nem dos grupos prioritários nem da restante campanha de vacinação, que o Governo já garantiu que será universal e gratuita.

No entanto, a esta altura não é possível fechar decisões sobre se poderão ser vacinadas pessoas de todas as idades ou mesmo condições clínicas, uma vez que nenhuma das vacinas em fases mais avançadas e em negociação está aprovada nem tem, por isso, Resumo das Características do Medicamento (RCM), o documento informativo que em qualquer medicamento estabelece a utilização e contraindicações e que depois é transposto para as chamadas bulas – aspetos que são homologados a nível europeu pela Agência Europeia do Medicamento, já que a Europa conta com uma aprovação centralizada de medicamentos.

Ontem, após notícias publicadas na quinta-feira e na edição do Expresso que davam conta da exclusão dos mais idosos na proposta da DGS, com base num documento discutido na semana passada, a tutela esclareceu que a estratégia de vacinação contra a covid-19 não tinha sido «discutida com o Ministério da Saúde nem validada politicamente». Já o primeiro-ministro reagiu no Twitter: «Há critérios técnicos que nunca poderão ser aceites pelos responsáveis políticos. Não é admissível desistir de proteger a vida em função da idade. As vidas não têm prazo de validade», escreveu António Costa.

Segundo o SOL apurou, a incerteza sobre que grupos etários poderão ser vacinados mantém-se a esta altura e só ficará desfeita quando forem conhecidos os RCM das vacinas. Não tendo havido ensaios clínicos nem em crianças até aos 18 anos nem em idosos, não pode a esta altura ser descartado que possa haver recomendações sobre um limite de idade para ser vacinado, seja nos mais novos ou nos mais velhos.

Fonte ligada ao processo explicou ao SOL que as vacinas só poderão ser dadas legalmente aos grupos etários que vierem a estar incluídos nas características de utilização dos medicamentos, que se espera sejam conhecidas até ao final do ano.

Em entrevista ao jornal i, esta semana, a bastonária dos Farmacêuticos também já tinha alertado para esta questão: «É preciso perceber se nas contraindicações e nos aspetos de segurança há alguma questão que tem de ser tida em conta. Vamos ter respostas para tudo isto e acho que não nos deve preocupar. O que não podemos, ou não devemos, é querer misturar no discurso político aquilo que é discurso científico. A ciência vai trazer-nos a vacina. O discurso político deve ser prudente, porque a própria ciência é prudente», defendeu Ana Paula Martins.

A responsável alertou também que se a decisão da task-force for envolver a rede de farmácias em alguma das fases da campanha de vacinação, que antevê como a mais complexa no país, o envolvimento do setor deve começar já, para se perceber se existem condições logísticas e preparar matérias como o agendamento. Ana Paula Martins chama também a atenção para que as vacinas são apenas uma das ferramentas para o controlo da epidemia, que dependerá da duração da proteção, da evolução do vírus e da imunização da população – tudo questões em aberto. 

 

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