Moderna pede aprovação da sua vacina contra a covid-19

Com os resultados da vacina a mostrarem 100% de eficácia a prevenir casos graves, o fundo do túnel parece cada vez mais próximo.

A Moderna está prestes a cruzar a meta na corrida à vacina contra a covid-19, e anunciou ontem que vai apresentar a sua pesquisa para aprovação de emergência pelas autoridades europeias e dos EUA. O entusiasmo é enorme por todo o mundo, farto de medo, confinamento e novos casos todos os dias. Sobretudo porque se trata de uma vacina muito, muito mais eficaz do que poderia sonhar há uns meses. Nessa altura, a expectativa era de entre 40% a 70% de eficácia – afinal, a vacina da Moderna mostra 94.1% de eficácia em prevenir sintomas da covid-19. E, talvez mais surpreendente ainda, 100% de eficácia em prevenir casos graves. 

“Ainda gostaria de ver os dados completos, mas o que vimos até agora é absolutamente incrível”, assegurou à Science Paul Offit, investigador do Hospital Pediátrico de Filadélfia, que faz parte do comité para vacinas da FDA, a entidade reguladora dos medicamentos nos EUA. As barreiras regulatórias da agência foram diminuídas ao máximo para acelerar o processo, à semelhança do que fez a Agência Europeia de Medicamentos, a contraparte europeia do Infarmed, que poderá demorar apenas vinte dias a aprovar a vacina.

A farmacêutica espera conseguir produzir 20 milhões de doses – esta vacina obriga a duas doses, tomadas com um mês de diferença – até ao final deste ano, que deverão ir primeiro para o mercado norte-americano, e depois produzir entre 500 a mil milhões de doses em 2021. 

A assombrosa taxa de eficácia da vacina da Moderna é ótima, mas já viramos algo semelhante com a vacina da Pfizer, que também tem como base RNA. Ou seja, é injetada a molécula que transporte informação dos genes, para enganar o nosso corpo a produzir anticorpos contra a covid-19. Contudo, estas vacinas são mais frágeis que as tradicionais. A grande vantagem da vacina da Moderna em relação à da Pfizer é que não precisa de ser mantida a temperaturas abaixo dos -70 ºC, pode ficar até seis meses a -20 ºC.

O Reino Unido, considerando que podia ter acesso mais rápido às vacinas da Pfizer, chegou a abdicar dos seus planos para vacinar primeiro os lares de idosos. Outra sua outra opção seria a vacina da AstraZeneca e da Universidade de Oxford feita com adenovírus de macaco, hibridizado com o espigão da covid-19 – contudo, a eficácia desta vacina parece ser inferior. 

O diretor-executivo da Moderna, Stéphane Bancel, chegou a apelar que a sua vacina, cujo stock será baixo, pelo menos no início, fosse dada apenas aos mais vulneráveis, por ser das mais eficazes. “Deem-na aos profissionais de saúde, aos idosos, deem-na a pessoas com diabetes, obesas, com doença cardíaca”, disse à Science. “A um homem de 25 anos saudável? Deem-lhe outra vacina”.

É que as vacinas de RNA não só têm uma logística muito mais complicada que as vacinas mais clássicas, como são muito mais caras. A Moderna está a planear cobrar o equivalente a entre 27 e 30 euros por vacina a países em desenvolvimento, enquanto a da AstraZeneca estará disponível a menos de 4 euros. 

Ainda a semana passada a União Europeia assinou um contrato com a Moderna, para obter 80 milhões de doses, com opção de compra de mais 80 milhões. Ontem, o potencial stock de vacinas europeu ultrapassou os dois mil milhões de doses, com mais um acordo, assinado com a farmacêutica norte-americana CureVacRNA.