Pandemia não trava Web Summit que contou com mais de 100 mil participantes

O primeiro dia já arrancou. Filomena Cautela é a anfitriã do evento. António Costa e Fernando Medina destacaram a importância da cimeira nos seus discursos, não deixando a pandemia de lado, numa altura em que o valor das tecnológicas europeias aumentou, segundo a presidente da Comissão Europeia. Assim foi o primeiro dia da Web Summit…

Um mês mais tarde e num formato nunca antes visto, a Web Summit “abriu portas” para mais uma edição que, apesar de ser em formato digital, continua com o alto patrocínio de Lisboa. As loucas correrias pelos corredores da Feira Internacional de Lisboa (FIL), onde a cimeira costuma decorrer, foram trocadas pelo conforto das casas de quem assiste e, apenas à distância de um clique, é possível assistir a outra conferência – algo a que já nos habituámos nos últimos meses.

Filomena Cautela, que apresenta o evento, fez as honras da casa, mas a abertura esteve a cargo do primeiro-ministro português, António Costa, do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, e do cofundador da Web Summit, Paddy Cosgrave. A pandemia e a tecnologia – ou não fosse a Web Summit o maior evento tecnológico do mundo – lideraram os discursos.

Para António Costa, não há dúvidas: um evento desta dimensão só pode transmitir uma mensagem de “força e esperança” nestes tempos de “incerteza” causada pela pandemia. “O mundo pós-pandemia será diferente. Cabe-nos garantir que será melhor. Vamos fazer da Web Summit 2020 o ponto de partida para construir este futuro melhor”, disse.

Destacando as políticas públicas e o papel do nosso país no setor tecnológico, o primeiro-ministro mostrou grandes expetativas para os próximos dias: “Durante estes três dias poderão conhecer investidores portugueses, executivos, líderes governamentais e outras personalidades que sobressaem nas suas áreas em Portugal e descobrir o nosso vibrante ecossistema empreendedor”, disse o governante, que não escondeu o orgulho no evento: “Não há nada mais poderoso do que ter 100 mil criadores, empreendedores e políticos a discutir novas soluções para o futuro”, sublinhou.

E, apesar de este ano a pandemia obrigar a um diferente formato do evento, o primeiro-ministro garante: este é o ano em que o país “salta para a liga dos campeões da inovação”. 

Eventos impactantes são “mais necessários do que nunca” O presidente da Câmara Municipal de Lisboa também não faltou à “cerimónia” de abertura e garante que eventos como a Web Summit são, neste momento, “mais necessários do que nunca”. “Mais do que nunca precisamos de eventos impactantes como este, eventos que mudam a forma como pensamos e ultrapassam os limites nestes tempos desafiantes”, defendeu o autarca lisboeta. Até porque, na edição do ano passado, a Web Summit ajudou a capital portuguesa “a posicionar-se como uma das capitais do mundo que mais impulsionam as startups”, através de “ideias e projetos incríveis” .

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa destacou que, apesar de não estarmos “fisicamente juntos em Lisboa”, “o mais importante é que a Web Summit está on”.

“Europa está a atrair mais capital para startups do que qualquer outra região” E se é de um evento tecnológico e empreendedor que estamos a falar, então a presença da presidente da Comissão Europeia para falar sobre o assunto faria todo o sentido. Durante cerca de 20 minutos, Ursula von der Leyen mostrou que, nesta área, a Europa está num bom caminho. Só este ano, segundo dados da Comissão Europeia, o valor das empresas de tecnologia no continente cresceu quase 50% e este setor “está a atrair mais capital de risco internacional do que nunca”. E continua a crescer: “A pandemia foi um catalisador e um acelerador de mudanças”, disse a presidente da Comissão Europeia acrescentando que algumas dessas tendências “já eram visíveis há algum tempo”. Von der Leyen notou ainda que “nos últimos cinco anos, o valor das empresas europeias de tecnologia quadruplicou. A Europa tem o maior número de cientistas de inteligência artificial, que publicam estudos nas melhores revistas do mundo. E há mais pessoas a desenvolver software aqui do que nos Estados Unidos”. E garante que “a Europa tem todo o potencial para ser líder global na próxima onda de transformação digital”.

Já no que diz respeito ao mercado digital, a presidente da Comissão Europeia defende que a União Europeia vai ter de reescrever as regras, apontando o Fundo de Recuperação e Resiliência como fator decisivo para que na próxima década sejam feitos investimentos nas infraestruturas físicas e virtuais da Europa.

E definiu três razões simples para a revisão destas regras: que os valores do mundo offline sejam respeitados online, que as empresas tenham um conjunto único de regras em toda a UE e ainda que tenham igualdade de condições e de oportunidades. “Ninguém espera que as plataformas digitais verifiquem todo o conteúdo, seria uma ameaça à liberdade de todos expressarem a sua opinião. Mas se conteúdos ilegais forem notificados pelas autoridades nacionais competentes, devem ser retirados. Com mecanismos de recurso facilmente acessíveis para os que o contestam”, disse a responsável.

Siza Vieira confiante na recuperação E quem também não faltou ao primeiro dia da cimeira foi Pedro Siza Vieira, que não quis igualmente deixar de abordar a pandemia. O ministro da Economia não tem dúvidas que as notícias sobre a vacina vão fazer com que, “mais cedo do que tarde”, as pessoas possam regressar aos restaurantes, a viajar ou a organizar festas. “Estas coisas vão voltar em força”, disse.

A pandemia trouxe o teletrabalho, as conferências via Zoom e, tal como mostra esta edição da Web Summit, a tecnologia é mais precisa do que nunca. Por isso, Siza Vieira defende que a pandemia vai mudar a forma como se trabalha. “As pessoas aperceberam-se de que podem passar muito do seu tempo fora dos seus escritórios. É provavelmente mais agradável ter mais espaço num local distante do que ter apenas 20 metros quadrados no centro de Londres ou São Francisco”, avançou.

E não deixou de falar sobre desemprego, garantindo que em Portugal ele é “significativamente mais baixo do que se esperava no início da pandemia”. “Temos agora mais pessoas empregadas em outubro do que em setembro e agosto”.

O ministro da Economia deixou ainda algumas ressalvas: “Temos muitas pessoas a lidar com tecnologia digital que há uns meses diriam que não conseguiriam fazê-lo”. Além disso, “Portugal tinha um nível baixo de comércio eletrónico e de pagamentos eletrónicos comparativamente à UE e vimos, nestes meses, que os níveis de e-commerce atingiram valores semelhantes aos da Europa”. E disse mais: “Sessenta por cento das PME do retalho já estão online, têm vendas digitais”.

Durante cerca de 20 minutos o ministro elogiou a resiliência do país, destacando a importância da formação e da informação não só no mundo do trabalho, mas também na vida social e política.

Uma volta ao mundo sem sair do sofá Tecnologia, política, futebol, música e tantas outras áreas fizeram parte deste primeiro dia de Web Summit. O primeiro dia foi já recheado de oradores – e ainda faltam dois – que falaram dos temas mais variados. 

A Web Summit termina na sexta-feira, com discurso do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Conta no total com mais de 800 oradores, mais de 100 mil inscritos e cerca de 2500 jornalistas acreditados.