Primeiras doses da vacina da covid-19 esperadas no início de janeiro

Pfizer aponta entrega em Portugal a partir de dia 1. Vacinação será facultativa e vai começar por ser dada no SNS. Crianças e grávidas deverão ficar de fora numa primeira fase.

Portugal poderá receber as primeiras doses da vacina da covid-19 da Pfizer no início de janeiro, numa quantidade suficiente para vacinar 300 mil portugueses. A indicação foi dada ontem pelo diretor-geral da farmacêutica em Portugal, em declarações à TSF. Também a diretora-médica da empresa adiantou que a vacina poderá chegar a Portugal logo a 1 de janeiro, isto se a aprovação da Agência Europeia do Medicamento sair a 29 de dezembro, a data agora apontada.

Segundo o i apurou, o anúncio foi feito à margem dos preparativos sobre o plano nacional de vacinação, que está a ser desenhado a nível nacional por uma task-force e que foi ontem discutido com o Governo. No final dessa reunião, a ministra da Saúde avançou já alguns pontos prévios do plano que será apresentado publicamente esta quinta-feira à tarde no Infarmed, logo depois da reunião de peritos com Governo, Presidente da República, partidos e parceiros sociais, desta vez transmitida online, onde será feito um ponto da situação epidemiológica a nível nacional e também apresentações sobre as vacinas em desenvolvimento.

Marta Temido, questionada sobre os planos divulgados pela Pfizer, sublinhou que o calendário em cima da mesa aponta para uma decisão pela Agência Europeia do Medicamento sobre a vacina da Pfizer no dia 29 de dezembro e uma decisão sobre a vacina da Moderna no dia 12 de janeiro. A ministra da Saúde indicou que a esta altura não são ainda conhecidos os resultados de todos os ensaios, sublinhando que existe incerteza sobre a eficácia das vacinas, a duração da proteção e mesmo sobre a que grupos serão recomendadas, o que dependerá dos Resumos de Características de Medicamentos de cada uma.

A hipótese de haver alguma limitação na toma por idosos, que suscitou polémica nos últimos dias, não foi ontem antecipada pela ministra da Saúde. Marta Temido salientou no entanto que os os ensaios abrangeram essencialmente pessoas entre os 18 e os 55 anos e que os dados disponíveis não recomendam a toma por crianças ou grávidas. Estes grupos, que de resto não estavam previstos nos grupos prioritários anunciados no final da semana passada pelo coordenador da task-force, deverão assim ficar de fora do arranque da vacinação. Marta Temido confirmou que o país encomendou 22 milhões de doses, prevendo-se uma despesa de 200 milhões de euros com a vacinação, que será facultativa e gratuita.

 

Vacinas dadas no SNS

Numa primeira fase em que se prevê “escassez” de vacinas, a vacinação acontecerá no SNS, adiantou a ministra da Saúde, podendo numa fase posterior ser alargada. A vacinação nas farmácias não deverá assim acontecer nos primeiros meses de 2021, em que os grupos prioritários serão utentes e funcionários de lares, profissionais de saúde, idosos com doença grave que possa ser agravada pela covid-19 e outros profissionais essenciais.

Os planos ao certo deverão ser conhecidos esta quinta-feira, nomeadamente os locais de vacinação e escalonamento dos grupos prioritários em função dos prazos previstos para a entega de vacinas. Recorde-se que no caso da vacina da Pfizer – que parece estar em vias de ser a primeira a ser dada a nível europeu e que começa a ser distribuída no Reino Unido este mês – os lares acabaram por ser retirados do topo de prioridades na campanha de vacinação britânica, dada a fragilidade da vacina, que só pode ser movimentada quatro vezes e mantida num frigorífico normal até cinco dias.

O Reino Unido tornou-se ontem o primeiro país a autorizar a vacina da Pfizer, isto depois de com o brexit ter aberto a porta para sair da alçada da regulação europeia de medicamentos (a EMA funcionava em Londres e mudou-se para Amesterdão). O país mantém-se no entanto num período de transição em matéria de regulação de medicamentos até ao final do ano, mas recorreu a uma cláusula de emergência. Uma decisão que levou ontem a Agência Europeia do Medicamento a declarar que o procedimento mais demorado era mais apropriado do que o britânico, por exigir mais evidência e validações. A crítica mais forte soou na Alemanha: “A aprovação de emergência é uma ferramenta normalmente destinada a pacientes que sofram de uma doença grave e incurável para os quais não existe outro meio de salvar vidas e integridade física. Este não é o caso do corona”, disse Peter Liese, eurodeputado do partido de Angela Merkel, que classificou a decisão de “apressada”.

 

Natal com grupos limitados

Por cá, a reunião desta quinta-feira no Infarmed servirá de base para as decisões sobre renovação do estado de emergência e medidas para o Natal e Ano Novo, que o Governo já indicou que serão anunciadas no sábado. A limitação do número de pessoas que poderão conviver e restrições mais apertadas na passagem de ano, ainda que com o recolher obrigatório a poder começar mais tarde e não às 23h, são os cenários em cima da mesa e que vão sendo adotados em diferentes países europeus. Em Espanha, o limite imposto pelo Governo é de 10 pessoas por reunião e ontem foram conhecidas recomendações que incluem ainda missas sem cânticos ou o tradicional beijo do menino e que idosos utentes de lares que passem as festas com familiares fiquem apenas numa casa e sejam testados no regresso às instituições.

O final desta semana contará assim com várias reuniões e auscultações, um processo em que a diretora-geral da Saúde será substituída pelo subdiretor Rui Portugal. Graça Freitas, soube-se esta quarta-feira, está infetada com covid-19 e em isolamento. Segundo o i apurou, a diretora-geral da Saúde teve um contacto com uma pessoa que mais tarde se soube estar infetada numa reunião na DGS na última sexta-feira, tendo manifestado entretanto também sintomas ligeiros que a levaram a ser testada esta terça-feira. Ontem teve lugar o rastreio de contactos, que envolve os colaboradores da DGS. A ministra da Saúde e secretários de Estado, com quem esteve, fizeram o teste e deram negativo. Não foram considerados contactos de alto risco, revelou o ministério, pelo que não terão de ficar em quarentena 14 dias. Na norma da DGS, o teste não é indicado nestes casos: devem manter a vigilância e evitar aglomerações.