Urbi et orbi, a liberdade, a ciência, o conhecimento, a cultura, a leitura e o desenvolvimento nasceram e cresceram juntos. A geografia do desenvolvimento é a geografia do livro e da leitura.
Cavou-se no século XVI na Europa uma linha de divergência entre os países que aprenderam mais cedo a ler e os que aprenderam tarde e mal. Uma divisão, uma fronteira, um estigma que ainda perduram hoje. As ilhotas de exceção num lado e no outro resultam do mesmo complexo de razões.
«Foi então que na China, entre o século II e o século VI*, se inventaram a tinta e a impressão em blocos de madeira gravada, o que permitia fazerem-se e distribuírem-se muitas cópias do mesmo trabalho. A ideia demorou 1000 anos a tocar a Europa, remota e atrasada. […]
Exactamente antes da invenção dos caracteres móveis, cerca de 1450, não havia mais do que algumas dezenas de milhares de livros em toda a Europa, todos manuscritos; tantos quantos havia na China cem anos a. C.
Cinquenta anos mais tarde, cerca de 1500, havia [na Europa] 10 milhões de livros impressos. A cultura ficava ao dispor de quem quer que soubesse ler. A magia estava por toda a parte».**
* Foi o período brilhante da dinastia Han, e depois dos Tang e dos Song, em que a China confucionista se afirmaria com uma perspectiva política assente na busca pelo conhecimento. E a agricultura, o artesanato, as artes e o comércio floresceram, a população chegou aos 50 milhões, o Império estendeu a sua influência política e cultural, alargando-se à Coreia, Mongólia, Vietname e Ásia Central.
** Carl Sagan, Cosmos, Gradiva