Houve menos nove milhões de contactos presenciais nos centros de saúde

Análise de dados de acesso ao SNS conclui que a pandemia de covid-19 continua a afetar milhares de cidadãos, adiando consultas, cirurgias, diagnósticos e tratamentos. 

Os cuidados de saúde primários registaram nos primeiros dez meses deste ano menos nove milhões de contactos presenciais médicos e de enfermagem, segundo uma análise feita pela MOAI Consulting para o Movimento Saúde em Dia, através de dados recolhidos no Portal da Transparência do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

“Nos hospitais, os contactos presenciais sofreram uma redução de 2,7 milhões entre janeiro e outubro de 2020 em comparação com o mesmo período do ano anterior”, lê-se num comunicado do Movimento Saúde em Dia, criado, no verão, pela Ordem dos Médicos e pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, em parceria com a Roche.

Tal como noutros cuidados, alertam, “a realização de rastreios está a ser muito afetada. Nos primeiros dez meses deste ano terão ficado por fazer 119 mil mamografias (uma queda de 16%), 81 mil rastreios do cólon e reto e houve menos 99 mil mulheres a realizar colpocitologia”.

Também nos cuidados de saúde primários, o panorama de redução de atividade parece ser claro: “houve menos 6,6 milhões de consultas médicas presenciais e menos 3,1 milhões de contactos presenciais de enfermagem. No total, são 9,7 milhões de contactos presenciais a menos do que o registado em 2019”.

Segundo a mesma análise, só em outubro, último mês com dados fechados, as consultas presenciais nos centros de saúde reduziram-se 40% e as consultas médicas ao domicílio decresceram 43%.

“A análise à atividade hospitalar mostra um cenário idêntico: entre janeiro e outubro deste ano houve menos 2,7 milhões de contactos hospitalares, entre consultas, cirurgias e urgências. Em termos percentuais houve menos 18% de primeiras consultas, menos 9% de consultas subsequentes, menos 21% de cirurgias programadas e menos 10% de cirurgias urgentes”, alerta ainda o grupo de especialistas.

Nas urgências hospitalares é também óbvia a tendência de redução em comparação com 2019, com menos 27% de episódios. Entre estes não estão apenas os considerados pouco urgentes, triados com pulseiras verdes ou azuis. Aliás, os episódios triados com as pulseiras mais urgentes diminuíram 17% (pulseira vermelha), 21% (laranja) e 28% (amarela).

Nos meios complementares de diagnóstico e terapêutica, com dados até setembro, realizaram-se menos 22 milhões dos atos, em comparação com o mesmo período de 2019.

Sublinhe-se que estes dados foram divulgados esta quarta-feira, dia em que representantes do Movimento Saúde em Dia são ouvidos pela Comissão Parlamentar de Saúde, para transmitirem aos deputados a preocupação com o impacto da pandemia no SNS e a necessidade de uma intervenção urgente para repor os cuidados de saúde aos portugueses.