As criancinhas

 Agora dá-se-lhes tudo, e até se pensa em confinamentos pandémicos mais ligeiros, por causa das criancinhas. Descobriu-se mesmo que os pais, se ficam em casa em teletrabalho com filhos, não podem trabalhar. 

Sou do tempo em que as criancinhas eram consideradas umas maçadoras horríveis, que tinham de se esconder para não ouvir. Lembro-me de sair a correr da Igreja, com algum dos meus 8 filhos que começasse a fazer barulho sem parar. Lembro-me de padres pararem as Missas (os mesmos que agora aturam mais todos os seus ruídos irritantes), por alguma criancinha estar a fazer barulho.

Em suma, sou do tempo em que as criancinhas não tinham ‘quereres’. Até ensinavam em casa, como me ensinaram a mim, que não devia ‘querer nada’, mas apenas ‘gostar’ de alguma coisa.

 Agora dá-se-lhes tudo, e até se pensa em confinamentos pandémicos mais ligeiros, por causa das criancinhas. Descobriu-se mesmo que os pais, se ficam em casa em teletrabalho com filhos, não podem trabalhar. E dá vontade de perguntar se esses pais no princípio, antes das tele-aulas, também não trabalharam, e portanto perderam o direito a qualquer vencimento que lhes tenha sido pago por engano. Ou então serão como aqueles professores que durante o primeiro confinamento eram contra ele, mas mal ele acabou passaram a gostar dele com imensas saudades.

As criancinhas, entretanto, medram e crescem de qualquer maneira, sempre. É indiferente o que os adultos pensem delas, a não ser para as fazer mais sacrificadas ou mal criadas. Às vezes chamam à má criação ‘muito génio’. É uma maneira de ver o problema.