Imobiliário. Estudo antevê que investimentos recuperem níveis pré-covid até 2022

O relatório da consultora imobiliária CBRE antecipa uma quebra no volume de investimento imobiliário comercial europeu de 25% em 2020, um aumento entre 5% e 10% em 2021 e a retoma aos níveis pré-covid até à segunda metade de 2022, contanto que os prazos de vacinação atualmente previstos se confirmem.

“Apesar do impacto severo na atividade económica desencadeado pela pandemia de covid-19, o mercado imobiliário comercial da Europa está bem posicionado para uma recuperação, havendo a expectativa de que os volumes de investimento regressem aos níveis pré-pandemia até 2022”, de acordo com o relatório EMEA Real Estate Market Outlook 2021, publicado recentemente pela consultora imobiliária CBRE.

A CBRE prevê que o PIB da zona euro contraia 7,3% em 2020, e recupere 4,6% em 2021, assumindo o relaxar dos confinamentos e uma vacinação em larga escala. As taxas de juro de curto prazo não devem subir até 2023 e a CBRE espera que a política monetária permaneça muito acomodatícia ao longo dos próximos 18 meses, o que é uma notícia positiva para o mercado imobiliário.

A CBRE antecipa uma quebra no volume de investimento imobiliário comercial europeu de 25% em 2020, um aumento entre 5% e 10% em 2021 e a retoma aos níveis pré-covid até à segunda metade de 2022, contanto que os prazos de vacinação atualmente previstos se confirmem. “O apetite por ativos continua forte, especialmente para ativos de logística, habitação multifamiliar e escritórios prime nos principais mercados, e este interesse deve manter-se em 2021. Deverão ocorrer no curto prazo, algumas vendas forçadas, nomeadamente de ativos de hotelaria e de retalho secundários”, refere o relatório.

A procura de escritórios para arrendamento foi prejudicada pelas medidas de confinamento e, nos três primeiros trimestres de 2020, caiu 40% em relação ao mesmo período de 2019. No entanto, a CBRE espera alguma recuperação em 2021 com a procura por produtos de qualidade com oferta de comodidades, em zonas centrais das cidades. As taxas de disponibilidade devem continuar a aumentar em toda a Europa, o que acentuará a pressão sobre o valor das rendas observada desde o primeiro trimestre de 2020. “Os ocupantes também devem executar estratégias de workplace mais ágeis, posicionando-se com alternativas de espaços de trabalho mais diversificadas. Alguns irão reduzir o espaço ocupado no escritório, apoiar o aumento do trabalho remoto e começar a introduzir modelos de trabalho baseados em escolhas, incluindo uma maior utilização de espaços flexíveis. Os impactos não serão imediatos, nem generalizados, mas poderão refletir-se em alguma redução na procura para arrendamento, a qual, no entanto, poderá ser compensada por uma retoma do crescimento económico, níveis mais reduzidos de densidade de ocupação do espaço, e uma preferência crescente por edifícios de qualidade superior e com melhores condições tecnológicas e de bem-estar”, adianta o estudo.

O comércio online, acelerado pela pandemia, deverá crescer ainda mais e continuar a impulsionar a procura por espaços de Logística em 2021. A absorção derivada do e-commerce será complementada por uma procura impulsionada pela reconfiguração e expansão das cadeias de abastecimento. A CBRE estima que a renda prime de logística aumente a uma taxa de 1,9% ao ano no período 2020-2024, com um maior acréscimo nas rendas em localizações urbanas, devido à escassez de terrenos e uma maior procura por parte de ocupantes para o comércio eletrónico.

Ativos imobiliários como a habitação multifamiliar e os data centers também mostraram resiliência durante a crise da Covid-19. A habitação multifamiliar apresentou níveis robustos de ocupação e de cobrança de rendas em comparação com outros setores e a CBRE espera que o investimento nesta classe de ativos atinja níveis recorde em 2021. O aumento no investimento em data centers verificado em 2020 irá continuar em 2021, contribuindo para o aparecimento de novos hubs de data center em toda a Europa. Em 2021 deverá verificar-se um recorde de capacidade em novos data center, a qual deverá ser ainda superior em 2022, atendendo à procura crescente.

A recuperação do comércio nas principais cidades irá depender de um retorno generalizado aos escritórios e das viagens de lazer e negócios. Existem oportunidades no setor alimentar, onde os investidores beneficiam de uma combinação de contratos de arrendamento de longo prazo e rendimentos mais constantes, assim como em retail parks. A procura por ativos exclusivos, nas melhores localizações, deverá manter-se mas haverá uma pressão para a atribuição de descontos. Paralelamente, um reajustar de rendas e valores dos imóveis deverá proporcionar oportunidades para o reposicionamento de ativos de retalho.

Os setores de lotéis e de lazer e entretenimento irão manter-se sob pressão no futuro próximo, mas ativos operacionais com características mais resilientes, como a saúde, terão melhores resultados. Efetivamente, os ativos onde o negócio imobiliário e operacional é capaz de associar-se de forma mais colaborativa terão melhor desempenho.

Cristina Arouca, Head of Research Portugal, afirma que “a pandemia de covid-19 criou enormes disrupções nos mercados imobiliários em 2020, provocando um fim abruto no ciclo económico que se vivia. Como acontece com todas as crises, os impactos e a recuperação não serão uniformes em todos os setores e geografias, mas novas oportunidades surgirão, e a expetativa de implementação de um plano de vacinação em breve leva-nos a acreditar numa recuperação sustentável com a entrada em 2021.” A consultora está a preparar o relatório anual Portugal Tendências 2021, que vai já na 5.ª edição, e será divulgado em janeiro com uma abordagem focada no mercado nacional.