Hoje sobram os líderes mas faltam os estadistas

Por tudo o que tenha acontecido, nada justifica a omissão grave de a morte de um ucraniano ter sido desprezada pelos poderes públicos. E não será a reestruturação do SEF que vai apagar essa culpa.

por Judite de Sousa

Há muito que vivemos num tempo de lideranças políticas, mas não de estadistas. Lideranças quase sempre efémeras que não deixam marca nem glória. A sociedade mediática veio introduzir novas regras. E fixar novos paradigmas. Ao ritmo a que a informação se produz, o imediatismo é esmagador. Já não existem tempos para pensar, decidir e agir. Estes tempos são simultâneos. Colocam a classe política sob uma enorme pressão e dão uma maior visibilidade aos erros. Todos erramos na vida mas, para os políticos, o caminho é mais estreito. Não são cidadãos comuns. Foram eleitos para dirigir com sabedoria os destinos de um país. Nem todos estão à altura dos desafios. Quanto maiores as adversidades, mais eficazes terão de ser as respostas. Por mais complexa que seja a governação, maior é o nível de exigência. É assim em democracia. E nenhum pormenor, por mais insignificante que possa parecer, pode ser deixado ao acaso. O escrutínio é duro para os que estão em órgãos de soberania. A agenda mediática é implacável, a opinião publicada não dá tréguas, os líderes de opinião estão a toda a hora nos média.

Desde janeiro que o país vive em circunstâncias especiais. A pandemia tomou conta de tudo e de todos. Uma situação inimaginável para a qual ninguém estava preparado. As negociações do Orçamento foram as mais duras desde sempre para António Costa e para a esquerda de um modo geral. A juntar a este contexto, os casos do Novo Banco e da TAP.

Por tudo o que tenha acontecido, nada justifica a omissão grave de a morte de um ucraniano ter sido desprezada pelos poderes públicos. E não será a reestruturação do SEF que vai apagar essa culpa.