Sindicatos da TAP contestam ministro

Pedro Nuno Santos e sindicatos da TAP protagonizaram esta semana novo ‘braço-de-ferro’. Trabalhadores rejeitam o desejo assumido pelo ministro de redimensionar a companhia.

O Governo decidiu ‘aproveitar’ a crise na aviação para fazer a «restruturação profunda» na TAP que o ministro Pedro Nuno Santos já desejava concretizar ainda antes da crise na sequência da pandemia. Na apresentação do plano de reestruturação da TAP  – exigido por Bruxelas no âmbito do empréstimo feito pelo Estado à companhia aérea –, Pedro Nuno Santos admitiu que as mudanças anunciadas estavam ‘em cima da mesa’ com ou sem pandemia, devido às dificuldades que a empresa já apresentava no período pré-covid, quando ainda era gerida por David Neeleman. «A TAP tinha e tem um conjunto de ineficiências que a tornam menos competitiva do que os seus concorrentes, que são as companhias de bandeira. Antes da covid-19 tinha já um conjunto de desvantagens competitivas face às congéneres, recordou. «Não estamos a fazer [a reestruturação] porque somos obrigados por terceiros, mas porque, infelizmente, a realidade obriga», esclareceu Pedro Nuno Santos, que, a título de exemplo, adiantou que foi identificado que a TAP «tem mais 19% de pilotos por aeronave e tem mais 28% de tripulantes do que as concorrentes». «Isso tem consequências no negócio», afirmou, alertando também para a ‘tendência de aumento’ (de 37% entre 2017 e 2019) dos pilotos nos últimos anos, «acentuada com a gestão privada». «Os nossos pilotos ganham mais do que alguns concorrentes, como a Ibéria (…) os custos laborais que a empresa enfrenta são um ‘peso’ que tornam difícil a relação com companhias de bandeira na Europa», lamentou.

Após retomar o controlo da TAP, o Governo – que passou a deter 72,5% da empresa (com 22,5% na posse de Humberto Pedrosa e 5% de pequenos acionistas) – decidiu avançar para o despedimento de 500 pilotos, 750 tripulantes e 750 trabalhadores do pessoal de terra, segundo a reestruturação feita em parceria com a consultora Boston Consulting Group e o Deutsche Bank.

Perante esta decisão, o Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) acusa agora o Governo de estar a protagonizar «uma verdadeira campanha de desinformação» sobre os salários dos pilotos da TAP que tem «como único objetivo transferir para os pilotos o ónus dos maus resultados da TAP e desviar a atenção dos reais motivos» que levaram a companhia a atravessar uma crise.  «As intervenções públicas do senhor ministro das Infraestruturas e Habitação e as informações divulgadas pelo ministério têm estimulado esta campanha de desinformação que em nada contribui para a credibilidade e estabilidade da TAP», diz o sindicato liderado por Alfredo Mendonça.

O Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) alinha pelo mesmo diapasão. «Os números apresentados pelo ministro não fazem qualquer sentido». «Nos últimos anos, a TAP sempre operou com um número de tripulantes mínimo de segurança e, mesmo assim, era obrigada a recorrer ao pagamento de horas extraordinárias», garante Henrique Louro Martins.

O presidente do SNPVAC acusa o Governo «de querer atribuir responsabilidades que não pode ser imputadas aos trabalhadores» e questiona: «Como é que, num dia, o Governo afirma que há 28% de tripulantes a mais na TAP e, no seguinte, avança com a possibilidade de contratar 400 tripulantes a partir de 2022, quando o setor da aviação tiver recuperado a atividade?».