Nova variante do SARS-CoV-2. A falta de dados e as suspeitas de como tudo começou

Não há nenhum país a sequenciar vírus ao ritmo do Reino Unido. Portugal não detetou variante mas amostra desta vaga tem só 400 casos.

Neste momento não há indícios de que esta nova variante do SARS-CoV-2 seja mais agressiva em termos de doença mas o Centro Europeu de Controlo de Doenças assinala que a maioria dos casos foram detetados em pessoas com menos de 60 anos, com menos doença grave, mas papel na transmissão. Por outro lado, ainda não são conhecidos resultados que mostrem se esta variante responde de forma diferente aos anticorpos anti-SARS-CoV-2 – o facto de ter mutações na proteína spike, a peça que permite ao vírus ligar-se às células, deixa em aberto poder haver reinfeções ou afetar a eficácia das vacinas. Nesse sentido o ECDC recomenda que todos os casos de reinfeção e falência vacinal sejam alvo de sequenciação genética.

Este acaba por ser um denominador comum na recomendação do organismo europeu, que revela que dos mais de mil casos desta variante detetados no Reino Unido, o primeiro remonta a setembro. O ECDC assinala que foram poucos os casos detetados fora de Inglaterra, até ontem apenas nos Países Baixos, Dinarmarca e Bélgica, mas os países europeus fazem a sequenciação genética de muito menos vírus do que o Reino Unido, não descartando assim que este novo SARS-Cov-2 já possa estar a circular noutros países. 

No Reino Unido, 5% a 10% dos casos de covid-19 têm sido objeto de sequenciação genética para se perceber a variante do vírus em causa na infeção. Desde o início da epidemia já foram detetadas mais de 10 mil variantes em todo o mundo. Esta chamou a atenção das autoridades inglesas pelo tipo de mutações e pelo rápido crescimento da epidemia no Sul de Inglaterra. Nas últimas semanas, as autoridades britânicas estimam que mais 50% das infeções foram associadas a esta nova variante. 

Em Portugal, como noutros países, a capacidade de análise genómica dos vírus tem sido menor. João Paulo Gomes, responsável pela unidade que estuda a diversidade genética de vírus e bactérias no Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, indicou ao i na semana passada que está a ser concluída a análise de 400 SARS-CoV-2 que infetaram portugueses nesta segunda vaga da epidemia. Nos cerca de 1700 vírus analisados até agosto, referentes à primeira vaga e período do verão, esta variante não foi detetada. Já ontem o Ministério da Saúde informou à noite que não confirmou a nova variante na amostra que engloba já o mês de novembro e a segunda vaga.

Ainda com poucos dados e respostas, o ECDC tornou ontem públicas algumas suspeitas de como terá aparecido a nova variante, que surpreende por ter várias mutações e não ter sido detetada na vigilância inglesa ao longo desse processo de evolução. É assim pouco provável que tenha surgido de forma gradual, considera o organismo. Uma possível explicação é que o vírus tenha evoluído num único doente com um caso de infeção prolongada, que deu tempo para o vírus ir adquirindo mutações. Outra possibilidade é ter-se tratado de uma evolução em hospedeiros animais, sendo posteriormente transmitido ao ser humano, no fundo como aconteceu com a variante detetada nas martas na Dinamarca. Nesse caso, milhões de animais acabaram por ser abatidos e foram reportadas poucas transmissões ao ser humano, circunscritas a trabalhadores de quintas de criação destes animais.