Luz verde para começar a vacinação contra a covid-19

Agência Europeia do Medicamento deu ontem autorização condicional à primeira vacina da covid-19 a nível europeu. Primeiras caixas chegam a Portugal no sábado.

Recebeu o nome comercial Comirnaty e, antes de qualquer teoria da conspiração, a expressão resulta da mistura dos termos covid-19, mRNA (o ARN mensageiro que dá as instruções ao organismo para iniciar o processo que leva ao fabrico de anticorpos contra o vírus), comunidade e imunidade – ou não fosse o objetivo contribuir para que seja atingida a imunidade de grupo pela via da vacinação, em vez do caminho da infeção natural que dura há dez meses e ainda vai longe disso. Em Portugal, estima-se que 20% da população já possa ter estado infetada mas em Manaus, por exemplo, o vírus já terá atingido 76% da população – acima da barreira dos 70% apontada como patamar para a proteção coletiva – e continua a circular e hoje já se sabe que nem todos os infetados fabricam anticorpos da mesma maneira.

Falamos agora da primeira vacina da covid-19 a ter luz verde na União Europeia. A Agência Europeia do Medicamento antecipou para ontem a reunião de deliberação e foi mesmo conclusiva, dispensando a que estava agendada para o fim do ano. A vacina desenvolvida pela Pfizer e pela BioNTech tem assim autorização para começar a ser distribuída nos países europeus. A Portugal, as primeiras caixas chegam no próximo sábado, o que permite o arranque simbólico da vacinação no domingo.

O início do virar de página “Como prometemos, esta vacina estará disponível para todos os países da UE ao mesmo tempo e nas mesmas condições”, disse a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen “Esta é uma forma muito boa de terminar este ano difícil e finalmente começar a virar a página da covid-19.”.

A expectativa é essa, mas como indica o próprio folheto informativo disponibilizado ontem pela EMA, não se sabe quanto tempo dura a proteção. E é certo que nem todos os vacinados ficarão totalmente protegidos. Nos ensaios, foi até ao momento apurada uma eficácia de 95% na proteção de sintomas de covid-19, mas ainda assim oito pessoas vacinadas tiveram na mesma a doença (ainda que não tenha havido casos graves no grupo vacinado). Por outro lado, não se sabe se a vacina, podendo prevenir doença e assim reduzir internamentos, impede a infeção e que pessoas assintomáticas transmitam o vírus.

Para já, a vacina não está indicada em crianças e adolescentes até aos 16 anos, mas no caso dos idosos não foi estabelecido qualquer limite de idade. No caso das grávidas, só deve ser dada em casos em que os médicos entendam que os benefícios superam os riscos. Da EMA, a garantia foi que, apesar de este ser um arranque simbólico da vacinação antes do Natal, não houve qualquer influência política na decisão de a antecipar. “O foco foi exclusivamente a ciência. Foi uma avaliação científica, ponto final”, disse Harald Enzmann, responsável pelo comité de peritos da Agência Europeia do Medicamento. Até aqui o Reino Unido, o Canadá e os Estados Unidos já tinham emitido autorizações de emergência. A Suíça foi o primeiro país a licenciar a vacina através da regulação normal (pese toda a agilização de processos administrativos que aconteceu nas últimas semanas) e a decisão europeia também segue o caminho normal, ainda que agora seja ainda uma autorização condicional, a que se segue a habitual autorização de introdução no mercado.

Vacinação arranca no domingo Com o “ok” da EMA, a vacina começa a chegar aos Estados Membros dentro de quatro dias e o Ministério da Saúde está a ultimar o arranque da vacinação para domingo.

Nesta primeira entrega chegam ao país duas caixas com 9750 doses, o ensaio de uma logística que será complexa: após a abertura e descongelação, as vacinas têm de ser rapidamente distribuídas. A regra instituída pela task-force é que quando é dada uma dose fique logo reservada a segunda, pelo que só são vacinadas pessoas para as quais já exista a segunda dose. Estas primeiras vacinas deverão chegar para 4500 pessoas.

A escolha recaiu sobre os profissionais de saúde mais expostos. A ministra da Saúde anunciou ontem que as primeiras vacinas serão dadas em serviços de cinco hospitais na linha da frente da resposta à covid-19: Centro Hospitalar Universitário de São João, Centro Hospitalar do Porto, Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte e Centro Hospitalar Lisboa Central. São “instituições que temos de preservar na capacidade de resposta para os portugueses e de apoio às demais unidades de saúde”, disse Marta Temido.

A 5 de janeiro está prevista a chegada de mais 300 mil doses e o esforço estará concentrado nos lares. Até ao fim de janeiro espera-se a vacinação de 21 mil profissionais de saúde e 118 mil utentes e funcionários de lares. A vacinação dos 300 mil profissionais de saúde do país só deverá ficar concluída em março. Nos lares, a expectativa da task-force é que no fim de fevereiro haja já uma cobertura de 75%.