Camionistas parados em Inglaterra querem ir para casa

Camionistas estiveram impedidos de abandonar a Inglaterra, mas França voltou a abrir fronteiras.

Depois de cerca de mil e quinhentos camionistas terem ficado duas noites proibidos de atravessarem o túnel do canal da Mancha, uma das rotas comerciais mais importantes da Europa, onde se encontravam diversos trabalhadores portugueses, agora, estes podem voltar a fazer-se à estrada para completarem o seu trabalho e regressarem a casa a tempo de festejarem o Natal uma vez que a França decidiu reabrir as fronteiras com a Inglaterra.

As autoridades francesas encerraram no domingo à noite a fronteira com o Reino Unido após a confirmação de uma nova variante de SARS-CoV-2, mais contagiosa.

Segundo uma fonte do Eliseu, uma solução “está a ser trabalhada”, escreveu o jornal britânico The Guardian. “As 48 horas de suspensão do trânsito com o Reino Unido foram sempre uma medida de emergência que deveria permitir-nos encontrar uma solução prática e consultar os nossos parceiros europeus”.

O Governo britânico discutiu com as autoridades francesas a possibilidade de testar todos os camionistas que atravessarem o canal, e ambos os países concordaram que bastava apresentar um teste negativo para atravessar.

“Começar a testagem é algo que pode acontecer bastante rápido”, explicou a secretária de Estado para os Assuntos Internos, Priti Patel, “mas em termos de detalhes, isso é algo que o secretário de Transportes e o seu homólogo francês estarão a discutir agora. Por isso, não quero especular sobre quando e como os testes estarão prontos e funcionais”, cita o Guardian.

“É do interesse de ambos os países garantir o fluxo do trânsito e, claro, que os transportadores europeus consigam regressar a casa”, disse Patel à Sky News. “É do nosso interesse continuar essas discussões e negociações e veremos o que se concretiza hoje”, concluiu.

Regressar a casa a tempo do Natal é uma das grandes preocupações dos homens retidos em Inglaterra, explicou o diretor da Associação Britânica dos Transportes por Estrada (RHA na sigla em inglês), Rod McKenzie, que se queixou da atuação da autarquia de Kent, porque apenas “ofereceu aos motoristas uma barra de cereais”, considerando-o “um esforço muito pobre por parte das autoridades locais”.

“Não estamos a tratar bem os condutores dos camiões nestas condições muito difíceis em que se encontram”, acrescentou McKenzie, que explicou que as condições sanitárias também são um “grande problema”, gerando preocupações.

Este bloqueio também aconteceu no terminal de Dover e no acesso ao terminal de Flokestone, no sudeste de Inglaterra, que daria acesso ao Eurotúnel.

Falta de produtos frescos Esta rota comercial é de extrema importância para o Reino Unido, uma vez que é a principal via para a importação de certos tipos de alimentos, nomeadamente a maioria (84%) da fruta fresca, quase metade dos vegetais e cerca de um terço da carne de porco. O seu bloqueio está a gerar preocupações em relação à escassez de alguns produtos nos supermercados britânicos.

O diretor de alimentação e sustentabilidade do consórcio de retalho The British Retail Consortium, Andrew Opie, alertou que nas prateleiras dos supermercados podem faltar produtos frescos.

“O problema, na verdade, são os camiões vazios presos em Kent e que precisam de viajar até sítios como Espanha para recolher a próxima remessa de framboesas e morangos, para regressar no dia seguinte ou depois. Caso contrário, veremos uma disrupção”, avisou Opie.

A cadeia britânica de supermercados Sainsbury explicou que, caso as fronteiras com os países europeus não sejam rapidamente reabertas, vão começar a faltar produtos nas suas lojas, nomeadamente alfaces, brócolos, couve-flor ou citrinos.

Contudo, procurou acalmar os seus clientes explicando que os ingredientes para produzir as refeições de Natal, como o peru, cenouras, ervilhas, batatas, cherovia e couve-de-bruxelas, “estão todos no país”.

No sábado, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, anunciou novas medidas em Londres e regiões do sudeste de Inglaterra, incluindo a recomendação contra as viagens ao estrangeiro, devido à nova variante detetada.

Devido ao risco da nova estirpe do vírus, mais de 30 países proibiram viagens do Reino Unido, incluindo a maior parte da Europa, Canadá, Turquia e Hong Kong.