Quarentena para Costa, jogo para o Benfica

Algum especialista pode explicar a razão de os jogadores de futebol não precisarem de ficar de quarentena quando um colega é infetado?

Qual a diferença entre o primeiro-ministro e a equipa de futebol doBenfica? Além das óbvias, há uma que me intriga. António Costa esteve em contacto com Emmanuele Macron quando o Presidente francês estava infetado e foi obrigado a ficar de quarentena, tendo de passar o Natal com todos os cuidados. Já a equipa do Benfica deve ser feita de uma cepa diferente, pois um jogador acusou positivo, no caso Pizzi, e ninguém foi obrigado a ficar de quarentena. Quem diz a equipa do Benfica pode dizer qualquer outra, tantos foram os casos revelados na presente época. Jorge Jesus, com o seu raciocínio veloz, logo disse que para ele a pandemia não é novidade nenhuma e que somos todos uns meninos. No Brasil o treinador chegou a ter oito ou dez jogadores infetados e ninguém se importou com isso.
Brincadeira à parte, será que algum especialista pode explicar a razão de os jogadores de futebol não precisarem de ficar de quarentena quando um colega é infetado? Já li toneladas de artigos sobre o fenómeno e nunca encontrei nenhum texto que explicasse este estatuto especial dos jogadores. Mas vamos imaginar que os jogadores de todas as equipas de futebol usavam a célebre aplicação StayAway Covid. O que fariam quando recebessem o aviso que um colega estava infetado? Ligavam para a linha SNS 24 ou para o departamento clínico do clube? Pelos vistos ligam para o clube. 

Este Natal, para muitos, não terá nada a ver com nenhum outro, mas o que me incomoda mais são os idosos que estão nos lares. Se os familiares aceitarem que eles vão passar a Consoada a casa terão, no regresso, de ficar confinados no quarto desolador do lar durante 14 dias. Carlos Carreiras, um dos autarcas mais vivos e atentos aos dramas humanos, colocou em marcha um ambicioso programa de atenuar a quarentena dos idosos que tinham de regressar ao lar e propunha-se a angariar 400 mil euros para pagar hotéis onde os idosos com um familiar passariam a quarentena – teriam de fazer testes: um à chegada, outro a meio da estadia e um no final. Estranhamente, apenas tiveram um pedido… Sem criticar quem quer que seja, é natural que não haja muitos familiares que queiram sujeitar-se a ficar 14 dias confinados. Eu que perdi a minha mãe há cinco anos e meio aceitaria que nem uma seta. Nesta época é ainda mais forte a saudade, embora já tenha aprendido a sorrir ao olhar para o lugar que era dela e de todos os que já partiram.

Voltando ao raio da pandemia, é cruel os idosos estarem a perder momentos magníficos nos seus últimos anos de vida. Maria do Rosário Gama, a presidente da associação de reformados, dizia-me esta semana que nos lares há muitas mães que não conseguem ouvir o que os filhos dizem, pois a distância é tanta que a surdez do idoso o deixa ainda mais isolado. Outros há, com problemas de visão, que nem conseguem saber com quem estão a falar.

P. S. O Presidente daRepública tem coisas que não entendo. Foi à televisão dizer que teria vários encontros com familiares noNatal, logo várias refeições, mas como foi atacado por médicos que combatem a covid, logo voltou atrás com a palavra dizendo que só vai fazer um jantar e com cinco pessoas. Não creio que isto faça algum sentido. Muitos sabem o quanto Marcelo Rebelo de Sousa é hipocondríaco. Desses, alguém acredita que o Presidente ia correr algum risco ou colocar alguém em perigo? E desta forma, devido à vida em direto, Marcelo foi obrigado a cancelar os encontros com os familiares e amigos. Enfim, é a vida que temos.
Bom Natal para todos e não se esqueçam de fazer brindes à vida.

vitor.rainho@sol.pt