O que foi para mim 2020

Penso que não pode deixar de haver uma altura na vida em que devemos reconhecer que outros poderão ter outras ideias, e até eventualmente melhores, pois não somos infalíveis e também por vezes nos enganamos. Isto, embora tenhamos a esperança de nos enganarmos menos, ao não repetir os erros que todos cometemos em maior ou…

Por Gentil Martins, Médico 

2020 foi para mim um ano como outros, procurando estar ativo mas reconhecendo que já não tenho 20 anos…

Continuo a gostar de ser útil aos outros e penso que não deixa de ser essencial no mundo moderno, com uma longevidade cada vez maior, não deixar de aproveitar os mais velhos nas sua capacidades que, se certamente reduzidas em certos níveis, não deixarão de ser certamente melhores em outros. E é no justo equilíbrio que poderão estar as melhores soluções. Porquê então querer reformar-se cada vez mais cedo, se se vive cada vez mais tempo?

Um célebre prémio Nobel dizia que em qualquer organização são tão importante os mais novos como os mais velhos, devendo coexistir: os primeiros por causa da sua dinâmica e os segundos pela sua experiência. Por outro lado, outro prémio Nobel dizia que não era suficientemente novo… para saber tudo…! E finalmente Martin Luther King dizia que parar ter inimigos basta não deixar de dizer aquilo em que se acredita como verdade.

Tivemos uma pandemia que levou a situações anormais e tive que procurar ser responsável, respeitando as regras e orientações fundamentais, como as relações humanas, o distanciamento, a máscara e a higiene das mãos, com rigor mas sem paranoia, preocupado sobretudo com o não tratamento dos ‘não-covid’ e a degradação económica e social, com o aumento da pobreza e do crime.

Acredito que o mais importante é conseguir dormir tranquilo, convicto que se fez o que se devia ter feito. É isso que tentei fazer embora, sem sempre o conseguir.

Penso que não pode deixar de haver uma altura na vida em que devemos reconhecer que outros poderão ter outras ideias, e até eventualmente melhores, pois não somos infalíveis e também por vezes nos enganamos. Isto, embora tenhamos a esperança de nos enganarmos menos, ao não repetir os erros que todos cometemos em maior ou menor grau.

Quando acreditamos verdadeiramente num Projeto ou numa Missão, é fundamental procurar garantir a continuidade desse Projeto ou dessa Missão. E por isso não devemos deixar de procurar quem nos substitua. Assim pensando, procurei agora ser substituído na presidência da Associação dos Atletas Olímpicos Portugueses (a AAOP), do mesmo modo que no ano passado procurei sucessor para a presidência do Centro de Apoio a Vítimas de Tortura (o CAVITOP) Isto sem deixar de me manter como colaborador motivado e disponível, mas já não como o principal responsável.

Mas essa substituição tem de ser preparada com cuidado… e a tempo e horas! Como na medicina, o segredo está na prevenção, na preparação e na escolha acertada. É fundamental estarmos preparados para situações eventualmente adversas antes que elas nos atinjam. Disso sabem bem os militares que têm de estar previamente preparados para vencer uma guerra, pois se assim não fizerem provavelmente a irão perder. Só reagir depois dos problemas surgirem é em regra tarde demais.