“Temos de estar todos muito vigilantes para o bem comum”

 Estive perto de pessoas com covid e contraí o vírus. Tive de me afastar. Fiz o teste, deu positivo, mas estava assintomática. No entanto, tive a oportunidade de ficar em casa durante 15 dias, o que deu para pensar. Aliás, parar para pensar foi aquilo que tirei como melhor lição desta infeliz pandemia.

Teresa Ricou, Fundadora da Escola-circo Chapitô

O que me custou muito foi ter sido obrigada a parar devido às orientações da DGS. Estive perto de pessoas com covid e contraí o vírus. Tive de me afastar. Fiz o teste, deu positivo, mas estava assintomática. No entanto, tive a oportunidade de ficar em casa durante 15 dias, o que deu para pensar. Aliás, parar para pensar foi aquilo que tirei como melhor lição desta infeliz pandemia. Acabou por ser um tempo maravilhoso porque não tive sintomas. Logo a seguir fiz outro teste, disseram-me que não era preciso. E aí acho que temos de ser mais objetivos ao nível da saúde. Quis fazer para ter a certeza de que estava limpa, fiz o teste por minha conta e deu negativo. Fiquei mais descansada não só por mim, mas pelas pessoas que estão à minha volta. Convivo com muita gente, tenho um trabalho de muita proximidade com a escola e com os alunos. Não parámos a escola durante este tempo. Criámos pequenos grupos de trabalho com todas as precauções. Tivemos de transformar e dar uma nova organização à escola de circo do Chapitô. O restaurante também está aberto, mas a respeitar todas as regras e limitações.

Do ponto de vista económico avizinha-se uma grande crise a nível mundial e nós, Chapitô, temos a nossa autossuficiência um pouco em risco. Mas temos de andar para a frente e não entrar em pânico. O desafio foi manter a nossa dinâmica entre casa e o teletrabalho, a escola online, mantendo o ritmo porque, sendo um trabalho de corpo, se não for mantido perde-se um pouco a capacidade de resposta. Também tenho de cuidar ao máximo da administração do Chapitô, mas gostaria de parar e pensar um bocadinho e concluir que é preciso mudar alguma coisa. Vou ter de refletir muito sobre a forma de dar continuidade aos projetos sociais, que são fundamentais neste momento. É fundamental não largar a educação e a cultura. A cultura tem de ser um elo de ligação entre tudo e todos e eu sou uma agente cultural. A cultura tem sido esquecida, quando é um bem de primeira ordem. Se não houver cultura, a parte social não se liga e a parte da educação também não. Mas encontrar pessoas com energia para manter esta dinâmica não é muito fácil; no entanto, o mundo precisa deste tipo de espaços. Baixar os braços é que não pode ser.

Temos de estar preparados para este excesso do mundo. Penso que este vulcão rebentou e nós, os humanos, somos os culpados. Temos de alimentar a terra com mais parcimónia, de estarmos mais atentos a todo o ecossistema, que está muito debilitado, e temos nas nossas mãos tudo para cuidar da nossa qualidade de vida. A sociedade de consumo tem de parar rapidamente, redimensionar e repensar a nossa vida. Temos de nos virar mais para o pequeno e médio comércio. Isso é fundamental. Penso que as grandes superfícies e os grandes estabelecimentos têm de ser repensados. Houve uma grande ganância por parte das pessoas. É preciso ter calma porque a dimensão humana não se pode perder. 

Sinto que estou praticamente imune desde que nasci porque o meu pai era médico de lepra, sempre vivi e lidei com todas estas doenças contagiosas. Desde a lepra à doença do sono, tudo passou perto de mim. 

Estão a chegar as vacinas e vai ser bom, mas temos de estar atentos: como é que elas chegam, como é que elas são. Mas isso não pode ser motivo de destabilização. Estou a pensar em ser vacinada. 

Quanto ao Natal, já estive com a minha família. Somos sete irmãos e já lhes desejei a todos umas Boas Festas. Também já estive com o meu filho, o meu neto e o meu bisneto. Quanto a mim, não faço a mínima ideia do que vou fazer porque também tenho os centros educativos. Não sei se lá vou dar um salto ou não. Está tudo em aberto, mas acho que o Natal é todos os dias. Todos os dias gosto de dar presentes, gosto de um bom jantar ou de um bom almoço, de uma boa conversa. Isso é que é Natal, e não a ideia de um Natal de 24 para 25. A minha vida é em andamento; se parar, a máquina pode ficar enferrujada. Pode aparecer um amigo ou outro, não tenho nenhum compromisso. O Natal tradicional foi passado na minha infância e na minha juventude. Hoje em dia, as pessoas têm é de estar bem. Temos de estar todos muito vigilantes para o bem comum, para a saúde física e mental.