Um Natal sem abraços

Gostaríamos de voltar a ter, não só uma casa cheia de família, mas de proximidade, de abraços, de beijinhos, de gargalhadas sem máscaras e com uma enorme descontração e sem receios. 

Este ano, que agora se aproxima do fim, tem algo de muito particular. Para o melhor e para o pior, estivemos – e continuamos – juntos nesta luta. Tivemos de nos unir para combater um inimigo comum que se foi apropriando e condicionando as nossas vidas. Cada um, de acordo com as suas funções e possibilidades, fez o seu melhor. Foi um ano de sentimentos difíceis: de desconfiança, incerteza, ansiedade, medo, perda, insegurança, nervosismo, saudade, solidão ou tristeza. Mas que proporcionou também a muitas famílias a oportunidade de se encontrarem após tantos anos a viver na mesma casa. Em que o tempo, por vezes, passou mais devagar, em que deixou de se correr para o trabalho, em que se fez mais refeições em família, se deram mais passeios, em que os pais puderam ouvir mais os filhos e acompanhá-los nesta fase tão estranha. Foi também uma prova de fogo à paciência e resistência de todos aqueles que estiveram em teletrabalho enquanto cuidavam dos filhos e a todos os mais novos que se aguentaram meses a fio entre as quatro paredes, longe dos seus amigos, para no regresso às aulas encontraram uma série de restrições e mudanças de regras.

Sem dúvida que os mais velhos e os mais novos foram os mais prejudicados. Os mais velhos porque ficaram isolados a viver na incerteza e no medo, muitas vezes sozinhos, por vezes experimentando uma angústia de morte. Muitos ficaram doentes e alguns não resistiram. E os mais novos – que em fase de formação e desenvolvimento, além de aprenderem que é bom evitar alguns amigos e manter a distância de todos, de serem ensinados a preocuparem-se excessivamente com a transmissão de micróbios e se habituarem as ver os adultos de cara quase tapada – foram afastados dos amigos, dos professores, dos avós, aprenderam menos e viram a sua liberdade condicionada.
Este Natal, se todos pedíssemos um desejo, sei que teria algo em comum. Seria, com certeza, as coisas mais simples, que sempre tivemos como certas, mas que este ano nos foram roubadas. Este Natal, não só desejaríamos ter à nossa mesa quem já partiu, mas também quem cá está, mas não pode estar connosco. Gostaríamos de não sentir que podemos ser uma ameaça para aqueles de quem mais gostamos só por passarmos a consoada juntos. 

Gostaríamos de voltar a ter, não só uma casa cheia de família, mas de proximidade, de abraços, de beijinhos, de gargalhadas sem máscaras e com uma enorme descontração e sem receios. 
Que para o ano por esta altura continuemos todos cá, que já nos tenhamos desenvencilhado deste vírus impiedoso, que nos possamos reunir sem medo e voltar a marcar presença junto de quem mais gostamos. E que, acima de tudo, possamos aprender alguma coisa com tudo isto e nunca mais nos esqueçamos da falta que fazemos uns aos outros e do quanto vale um abraço. 
Um muito Feliz Natal!