Realidade relâmpago

Ter em 2020 uma educação igual à de várias dezenas de anos atrás é semelhante a tentar fazer um percurso de estrada com uma roda empenada. O carro anda, mas não anda tão rápido e de forma tão segura e estável quanto seria possível. 

O mundo está a mudar rápido. A diferença entre o ano passado e o que agora se encontra perto de acabar é muito superior quando comparada com a diferença de um ano para o outro há 10 ou 20 anos atrás. Um mundo com tal grau de mutação constante requer uma sociedade, uma economia e tantas outras estruturas sociais fluidas e capazes de se adaptarem. Essa fluidez e capacidade de adaptação não existem ainda nem para a formação e educação, e muito menos para o mercado de trabalho.

Estruturas rígidas são positivas, tal como as fluidas, quando aplicadas no momento certo para que se explorem os proveitos sociais de ambos. No entanto, desadequadas à circunstância, tendem a ser altamente castradoras. Um exemplo claro é o sistema de educação rígido atualmente.

Apesar de o sistema de educação ter servido, na estrutura de avaliação, sala de aula e aprendizagem dos conteúdos, durante as revoluções industriais, pelo facto de prepararem os jovens para as linhas de montagem e trabalhos especializados, o mesmo não se aplica aos dias de hoje. Atualmente, as competências digitais e as competências transversais (’soft skills’) são aquelas nas quais a sociedade tem o maior défice. 

Não é possível existir inovação se a educação é igual para todos, porque a diferença e a alternativa são penalizadas. Se o indivíduo não pode ser igual a ele próprio na combinação das suas competências, então muito provavelmente será infeliz.

A maior parte das pessoas com menos de 30 anos (principalmente) não estão seguras do que querem fazer profissionalmente porque não se conhecem a elas próprias o suficiente, que por sua vez tem a sua causa na ausência de uma variedade de experiências, fruto de o sistema promover uma experimentação igual para todos.

Queira o leitor compreender que não sou contra o ‘sistema’, e que o que defendo é deitar tudo abaixo e reconstruir de novo. Existe valor na forma como a educação e formação profissionais são promovidas. Sou sim da opinião de que requerem de reformas profundas que permitam aproveitar o que existem, assente em premissas coerente com os dias de hoje.

A educação como a experienciámos funciona. Qualquer pessoa que frequente um curso não sai imaculada, igual a ela própria como era antes de iniciar o seu percurso. A questão prende-se com o grau de aproveitamento desse tempo e esforço investido. Ter em 2020 uma educação igual à de várias dezenas de anos atrás é semelhante a tentar fazer um percurso de estrada com uma roda empenada. O carro anda, mas não anda tão rápido e de forma tão segura e estável quanto seria possível. 

Na ausência de melhores soluções práticas, julgo estar nas mãos do leitor fazer uma análise das capacidades e competências que melhor servem o seu futuro profissional e pessoal, e aproveitar a informação disponível online para complementar a sua formação académica ou profissional. 
Deixar nas mãos de terceiros o nosso bem-estar e preenchimento pessoal é adiar o nosso sucesso, o que quer que isso signifique para si.