A tranquilidade esconde um monstro

As medidas que António Costa tem tomado desde que se tornou primeiro-ministro são mais determinadas por pressão da extrema-esquerda, ou seja, do BE e do PCP, do que pelas necessidades do país.

Neste mês de dezembro, dois ex-primeiros-ministros do PSD, Cavaco Silva e Pedro Passos Coelho, vieram a público com críticas ao Governo.

E a raridade das suas intervenções políticas fez com que tivessem um significativo impacto.

Com a autoridade que lhe vem do facto de ter sido o chefe do Governo com mais tempo de permanência no cargo e cujo consulado correspondeu a um período de invulgar estabilidade e crescimento, Cavaco afirmou: «Esta trajetória está a conduzir Portugal para lanterna vermelha ao nível de desenvolvimento, nos 19 países da união monetária». E recordou: «Quando era primeiro-ministro, éramos o 11.º país em matéria de desenvolvimento. Agora, só temos atrás de nós a Grécia e a Letónia».

Quanto a Passos Coelho, perguntou: «Que Portugal é este que não consegue fugir à cauda da Europa, quando praticamente todos os outros conseguem?».

Os meus leitores sabem que não é usual eu fazer críticas globais ao atual Governo.

Por regra, analiso factos concretos.

Mas começa a ser tempo de dizer que esta política nos está a afundar.

E isto porque as medidas que António Costa tem tomado desde que se tornou primeiro-ministro são mais determinadas por pressão da extrema-esquerda, ou seja, do BE e do PCP, do que pelas necessidades do país.

Cavaco Silva disse ainda, na sua recente declaração: «Não sou capaz de apontar uma reforma significativa levada a cabo pelo governo da geringonça».

Mas o problema é muito mais grave: o Governo não só não fez qualquer reforma como reverteu algumas reformas e decisões estruturais tomadas pelo Governo anterior, tais como a privatização da TAP, as 40 horas na Função Pública, as privatizações de transportes públicos ou, mesmo, as mudanças de Nuno Crato na Educação.

E agora parece que vai reverter a concentração de freguesias.

E prepara-se para rever as leis laborais, ou seja, para voltar atrás em certas reformas que deram bom resultado, como se viu na altura pela redução do desemprego.

Portanto, o governo socialista não só não andou para a frente como deu vários passos atrás.

E tudo isso para quê?

Para conseguir o apoio da extrema-esquerda aos orçamentos, para ter alguma paz nas ruas e para arranjar mais uns ‘tachos’ para distribuir.

Está mais do que provado que as políticas redistributivas, sem um aumento da produção, contribuem para o empobrecimento das nações.

Os rendimentos das famílias só podem aumentar de forma sustentada se houver maior criação de riqueza.

Ora, o Governo, em vez de se concentrar no aumento da produção, dedicou-se a distribuir rendimentos para conseguir um aumento do consumo.

Em vez de se concentrar no crescimento das exportações, concentrou-se no mercado interno.

E os resultados começam a estar à vista: Portugal não cresce, Portugal é cada vez mais ultrapassado por países de Leste que partiram de uma situação muito pior do que a nossa.

António Costa tem-se defendido dizendo que Portugal cresceu acima da média europeia.

Esquece-se, porém, de acrescentar duas coisas:

Primeira, que o crescimento do PIB foi alavancado pelo aumento excecional do turismo; sem ele, teríamos estagnado ou até regredido.

Segunda, que os países que estavam a par do nosso cresceram muito mais (e por isso têm-nos ultrapassado).

Não tendo o Governo feito as reformas que se impunham, os dinheiros da Europa que aí vêm darão para tapar uns buracos no Estado – mas não para relançar vigorosamente a economia.

Se o setor privado tivesse sido beneficiado, facilitando-se a vida às empresas, ajudando-as com estímulos fiscais, não penalizando o trabalho e os lucros, teríamos hoje empresas mais competitivas e mais atrativas para o investimento nacional e estrangeiro – e que, com a ajuda dos dinheiros europeus, poderiam recuperar e dar o salto.

Mas, tendo feito o oposto, encarando as empresas como um mal necessário e não como células criadoras de riqueza, penalizando-as em lugar de as ajudar, boa parte do tecido empresarial não vai resistir à crise – e vamos ter falências em cascata, aumento do desemprego, cada vez mais gente a viver de subsídios e do rendimento mínimo garantido.

E vão aumentar as desigualdades entre os trabalhadores do setor público e do privado, com uns a serem poupados à crise, porque o Governo rejeita as políticas de austeridade, e outros a sofrer sozinhos o seu impacto.

A paz social e a estabilidade que têm existido até aqui, aliadas à indiscutível habilidade de António Costa, ainda transmitem ao país a ideia de que as coisas não estão muito mal.

E a pandemia tem escondido alguns problemas.

Mas trata-se de uma ideia falsa.

A aparente tranquilidade esconde um monstro.

As empresas não estão preparadas para resistir à crise que ainda só está no início.

E o Estado não terá capacidade para acudir às vagas crescentes de pessoas necessitadas do apoio público.

Assim, ou me engano muito, ou dentro de um ano ou dois assistiremos a um estoiro gigantesco deste modelo criado pela ‘geringonça’.

Um modelo que teve como um dos grandes inspiradores um economista que dá pelo nome de Francisco Louçã.

Exatamente o mesmo que aconselhou o Syriza – coligação que levou a Grécia à situação que se conhece.

Oremos, pois…