Entre o streaming e as salas vazias

O início da vacinação contra a covid-19 abriu uma janela de esperança para um ano que, no melhor cenário, será de muitas estreias. Mas que começa já marcado pelo adiamento da gigante Berlinale, que decorre apenas em junho.

De Hollywood às produções independentes que sofrem com o adiamento ou passagem para formato online de festivais e sob a ameaça do streaming ao sistema tradicional de distribuição, o setor do cinema entra em 2021 num dos mais desafiantes períodos na sua história. Depois da bonança estival  que permitiu  a realização em formato físico e no calendário do Festival de Cinema de Veneza, chegou a vez da Berlinale, que em 2020 se realizara ainda sem grandes constrangimentos, se ver obrigada a reagendar a edição de 2021, para dois momentos: um primeiro, online, destinado aos mercados, e um segundo para o público, no mês de junho, para o qual foi adiada também parte de Roterdão, logo depois de Cannes.

Enquanto direções de festivais reorganizam agendas, a parte do cinema que é sobretudo indústria de entretenimento sofre. Se tudo correr pelo melhor, 2021 poderá ficar como um ano de estreias como não havia memória. Entre os cancelamentos de 2020 que poderão ter estreia em 2021 contam-se o novo 007 (apontado para abril), Viúva Negra, a partir da personagem da Marvel (maio), bem como as sequelas de Homem-Aranha ou Suicide Squad, Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings, Missão: Impossível 7 ou o live action centrado na vilã de Os 101 Dálmatas: Cruella, com estreia para já prevista para maio próximo. Por cá, adiada pela pandemia ficou também a estreia de Amadeo, o biopic de Vicente Alves do Ó sobre o aclamado pintor modernista,  que deverá chegar às salas em 2021. 

Enquanto isso, as salas independentes continuam à procura da luz do fundo do túnel, com programações que não parecem de tempos de crise. A prova é que abrir o ano, chega às salas A Mulher Que Fugiu, o novo filme de Hong Sang-Soo, distinguido com um Urso de Prata Melhor Realizador na Berlinale de 2020, companhado de outos quatro dos seus filmes. Nos primeiros dias do ano há também a nova verão restaurada de Crash, de David Cronenberg, e continua o ciclo que a Medeia Filmes vem dedicando a Wong Kar-Wai, com a versão restaurada de 2046.