À espera de que se vacine o mundo

Nunca antes foi necessária uma campanha de vacinação a esta escala. O potencial de algo correr mal e os pobres ficarem de fora é enorme.

2020 foi um ano de desespero, contenção, de achatar a curva à espera da vacina. 2021 será o ano de luz ao fundo do túnel, com o arranque de campanha de vacinação à covid-19 à escala global. Ainda há algumas perguntas cruciais por responder, como quanto tempo dura a imunização, quão difícil será inocular tanta gente, ou se alguma mutação do SARS-CoV-2, o vírus que causa a covid-19, pode pôr em causa a eficácia das vacinas.

Contudo, mesmo que não haja nenhum obstáculo no que toca à duração ou eficácia da imunidade – os ensaios clínicos da Pfizer/BioNTech, da Moderna e Gamaleya mostram uma eficácia acima dos 90%, os da AstraZeneca são confusos –, podemos não nos livrar da pandemia em 2021, avisam alguns especialistas. ´

Mesmo com a vacina, «apesar de ser esperado maior controlo sobre os efeitos mais danosos da infeção e um diminuir o seu alastrar, provavelmente demorará alguns anos até que o vírus possa ser controlado em todo o mundo», lê-se num editorial recente da Lancet, uma das mais respeitadas revistas científicas do planeta. «O mundo nunca antes precisou de implementar a imunização em massa da sua população adulta inteira. Os desafios disso são financeiros, logísticos, sociais».

Veremos como corre a distribuição global de vacinas no próximo ano, mas, para já, conseguimos ver um padrão assustador a emergir. Os países mais desenvolvidos – EUA, Canadá, União Europeia, Austrália – já açambarcaram boa parte do stock global de vacinas, deixando a seco os países em desenvolvimento.

Estes poderão contar com o COVAX, um mecanismo que junta entidades como a OMS e a Fundação Bill e Melinda Gates, permitindo a países em desenvolvimento negociar juntos, para obter preços melhores das farmacêuticas, mas há pouca esperança que seja suficiente, a curto prazo.

Os países em desenvolvimento «deveriam lembrar-se que a pandemia só acabar de facto quando estiver sobre controlo globalmente», avisou a Lancet.