A razão ou as crenças!

É assim que vivemos hoje, mais ainda do que naquele tempo. Deixamo-nos levar pelo prazer e fugimos do sofrimento a toda a velocidade. E a cabeça? Essa já nem tem juízo… aliás, juízo é coisa que já ninguém tem neste mundo, porque chegámos ao mais ridículo do que é humano.

Lembro-me de ouvir, quando era criança, uma música do António Variações que dizia o seguinte: «Quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que paga». Logo de seguida, dava uma resposta como que em surdina que dizia: «Deix’ó pagar, deix’ó pagar, se isso te dá prazer, se tu estás a gostar, se te estás a libertar».

Era melodiosa o raio da música. E não é que me ficou na cabeça!!!

Eu nem sabia quem era o António Variações, nem o que a música queria dizer. Era algo que nos ficava no ouvido e nós íamos ouvindo os nossos familiares a cantarem sem parar…

Hoje é diferente! Hoje já sei o que significa tudo isso e já fiz a experiência de não ter juízo e de castigar o corpo com as parvoíces a que me sujeitei. É um dado empiricamente verificável: nós buscamos o prazer, o gosto e a liberdade mais do que o juízo, mais do que a razão. Porque a razão diz-nos uma coisa, mas o corpo está a dizer outra.

É assim que vivemos hoje, mais ainda do que naquele tempo. Deixamo-nos levar pelo prazer e fugimos do sofrimento a toda a velocidade. E a cabeça? Essa já nem tem juízo… aliás, juízo é coisa que já ninguém tem neste mundo, porque chegámos ao mais ridículo do que é humano.

Nas próximas semanas terminará o processo de aprovação da Lei sobre eutanásia e que eufemisticamente será chamada ‘morte medicamente assistida’. Este nome é, na minha opinião, ainda pior do que ‘eutanásia’. Ao menos o nome eutanásia (boa morte em grego) ninguém sabe o que é… Agora chamar ‘morte medicamente assistida’ é dizer que os médicos terão como função assistir à morte de alguém, tirar-lhe a vida. Não é aliviar-lhes o sofrimento, mas tirar a vida.

Veio-me parar às mãos uma entrevista com a Dra. Isabel Moreira sobre a elaboração da Lei. Apeteceu-me colocar aqui um emoji, daqueles que ficam congelados, mas sinceramente não sei como o posso fazer…

Na entrevista a deputada do PS diz o seguinte: «Tentei ir buscar o melhor de todos os projetos e todos tinham a preocupação comum: o respeito pela autonomia do doente para que seja uma decisão livre, séria, esclarecida, tomada por uma pessoa maior numa situação absolutamente excecional».

Diante de um corpo que definha e sofre, não há autonomia que nos valha, não há liberdade, não há nada, porque o que o que nós queremos, como diz a música, é ter prazer, é ser livres. Ninguém quer sofrer! Ninguém! E também não me parece que o sofrimento seja o caminho de quem quer que seja como filosofia de vida. Aliás, alguém que procure o sofrimento no seu corpo não está, seguramente, bem.

Mas o sofrimento faz parte da nossa vida! Podemos atenuá-lo! Podemos mitigá-lo! Podemos controlá-lo!

Ninguém quer sofrer, mas não podemos deixar ao corpo uma decisão que pertence à cabeça. A razão pertence à cabeça.

A solução de uma sociedade para um doente terminal com uma doença incurável não pode ser o ‘suicídio assistido’ ou se quiserem ‘morte medicamente assistida’.

Não é razoável! Não é racional! Acima de tudo, não é humano!

Diante do sofrimento, a sociedade só se deveria organizar para encher o doente de amor e de conforto. Organizar a vida das famílias para que possam acompanhar o doente até ao fim dos seus dias.

Mas não! Se sofres, vamos-te aliviar o sofrimento – com a morte!

Eu acredito que os homens ainda se poderão superar a si mesmos. Acredito que o amor é mais forte do que todas as leis que garantam o ‘suicídio assistido’.

Eu ainda acredito e estou quase seguro de que o Presidente da República não assinará o diploma ou que ao menos venha a fazer o que o Rei Balduino fez ao renunciar por dois dias às suas funções de chefe de Estado para não assinar a lei do aborto.

Acho que as crenças opinosas de cada um estão a suplantar o poder da razão e da ciência. Nós não podemos usar a razão e a ciência contra a própria vida do homem.