Covid-19. Reino Unido no “olho do furacão”

Com cada vez mais profissionais de saúde afetados, até o programa de vacinação sente a pressão. Johnson é acusado de correr atrás do prejuízo.

Na corrida contra a pandemia, com as autoridades a tentar vacinar o máximo da população antes do escalar das infeções, o Reino Unido está no “olho do furacão”, como descreveu Peter Horby, diretor do New and Emerging Respiratory Virus Threats Advisory Group, à BBC. O país – que foi o primeiro a autorizar a vacina da Universidade de Oxford e da AstraZeneca, uma das que levanta mais esperanças por sre barata e fácil de distribuir – enfrenta um pico brutal nos casos, boa parte envolvendo a nova variante do covid-19 detetada em terras britânicas, mais rápida a espalhar-se.

Com mais de 30 mil mortes nos últimos 30 dias e quase 55 mil casos registados no domingo, chovem críticas à gestão da pandemia pelo Executivo de Boris Johnson, que fechou de novo o país, com restrições semelhantes às de março.

O problema não é a dureza das medidas –  que proíbem saídas de casa em Inglaterra e em boa parte do resto do território, exceto por motivos essenciais, como para trabalhar, ir às compras ou devido a emergências médicas – mas a demora em agir, acusou Anthony Costello, professor de Saúde Pública no University College de Londres. Vimos algo semelhante em março, quando o Governo britânico hesitou em ordenar o confinamento até ao último momento.

“E o problema é que eles repetiram estes atrasos”, salientou à Associated Press o professor, que também faz parte do SAGE, um dos mais reconhecido grupos científicos britânicos. Em novembro, o SAGE apelara a duas ou três semanas de restrições preventivas, um “disjuntor” antes da época festivas, mas foi ignorado pelo Governo, que continuou com a impor restrições localizadas apenas nas regiões mais afetadas, até à chegada do pico de contágios. 

Agora, o Governo pode ver-se obrigado a endurecer ainda mais as medidas esta semana, estando a ser ponderado um recolher obrigatório, o fim das bolhas de apoio – uma regra que permitia que quem vivesse sozinho, sobretudo idosos, se mantivessem em contacto próximo com outro agregado familiar – e até o fecho dos infantários, segundo o Mirror. Isto numa altura em que o desgaste é cada vez mais notório entre os britânicos, com uma análise da Sky News a mostrar que estes se têm deslocado mais durante este confinamento que durante o de março. 

A escalada nas infeções dificultou a própria campanha de vacinação, com cada vez mais profissionais de saúde fora de ação. Mais de 46 mil estão doentes com covid-19, muitos outros estão em isolamento devido a infeções no agregado familiar, denunciou Chaand Nagpaul, presidente da Associação Médica Britânica, citado pelo Guardian.

Mesmo assim, mais 1,5 milhões de britânicos já receberam a primeira dose da vacina, e é esperado que a meta de inocular 15 milhões dentro de seis semanas seja excedida, disse Kate Bingham, antiga líder da Vaccine Task Force, à Radio 4. Planeia-se até incluir os professores na lista de profissões prioritárias para a vacinações, de maneira a permitir uma eventual reabertura completa das escolas.