Campanha de vacinação atrasa-se

Pfizer vai reduzir entregas das próximas semanas. Após investigar 13 mortes de idosos vacinados, Noruega alerta que reações comuns podem ser um risco para pessoas muito frágeis e aconselha ponderação na imunização.

Não passou ainda um mês desde o início da campanha de vacinação e já há mais uma travagem forçada. A Pfizer comunicou esta  sexta-feira aos países europeus que vai atrasar as entregas previstas para as próximas semanas, devido a uma diminuição temporária da produção para aumentar a capacidade da fábrica em Puurs, na Bélgica.

A Presidente da Comissão Europeia declarou ter tido a garantia da empresa de que as doses acordadas para o primeiro trimestre serão entregues, mas não chegarão nas quantidades previstas para as próximas semanas.

Portugal estava à espera de 79 950 doses por semana até ao fim de janeiro, com expectativa de aumento das entregas semanais em fevereiro.

Segundo apurou o Nascer do SOL, ontem ao final do dia a task-force nacional de vacinação coordenada por Francisco Ramos aguardava as novas previsões de entregas para ajustar o plano de vacinação.

Com a redução das quantidades, o calendário que previa ao longo do próximo mês  concluir a vacinação de cerca de 300 mil pessoas em lares, entre residentes e funcionários, mas também começar a chamar os doentes prioritários para vacinação, poderá sofrer novas derrapagens. Antes do arranque da vacinação, um dos cenários chegou a admitir que a primeira fase de vacinação pudesse ficar concluída nos primeiros dois a três meses do ano, mas a redução de 20% nas entregas por parte da farmacêutica já tinha levado a comissão a apontar para a conclusão desta primeira etapa da campanha de vacinação, que deverá abranger 950 mil portugueses, para abril.

Dependendo da aprovação da vacina da AstraZeneca e do desenrolar das entregas daqui para a frente pode correr mais depressa ou mais devagar, mas dificilmente permitirá começar a segunda fase antes de meados do segundo trimestre do ano.

O Nascer do SOL sabe também que o eventual espaçamento das doses é uma matéria em apreciação, depois de a comissão técnica de vacinação ter apresentado elementos contra e a favor de dilatar o prazo entre primeira e segunda dose da vacina, que têm indicação para ser feitas com 21 dias de intervalo. 

 

Noruega recomenda ponderação de vacinação

Também esta sexta-feira surgiu um novo alerta a nível internacional que está a agora a ser seguido pelos peritos portugueses e que vem pela primeira vez refrear a expectativa em torno da vacinação dos mais velhos, em especial dos mais frágeis.

Depois de investigar 13 mortes de idosos com mais de 80 anos após a toma da primeira dose da vacina da Pfizer, 0,04% das cerca de 30 000 pessoas vacinadas no país nas últimas semanas, a agência norueguesa do medicamento e o instituto de saúde pública do país concluíram que não é possível excluir que reações comuns à vacina tenham contribuído para a morte destes idosos, que já tinham doenças de base e um estado de saúde frágil.

Em comunicado, a agência do medicamento da Noruega salientou que a vacinação de idosos com mais de 85 anos e com situações de saúde instáveis não fez parte dos ensaios clínicos e que é expectável que ocorram mortes neste grupo etário que está a ser vacinado no país, onde se registam cerca de 400 mortes por dia em lares e cuidados continuados. No entanto, não foi possível descartar que reações comuns à vacina como febre e náuseas tenham contribuído para o agravamento de estados de saúde já frágeis. Veredito: «Reações adversas comuns podem ter contribuído para um curso grave da doença em pessoas mais frágeis».

Em sequência, o país alterou as recomendações da vacinação e pede a ponderação da imunização nestes casos. «O que dizemos é que se têm doentes muito frágeis, muito doentes e com uma curta esperança de vida, deve fazer-se uma avaliação adicional da adequação da vacina», afirmou Steinar Madsen, responsável da agência do medicamento da Norueguesa.

O Nascer do SOL procurou perceber junto do Infarmed se há reporte de efeitos adversos em idosos agora que passam duas semanas de vacinação nos lares dos concelhos com maior risco e se as conclusões das autoridades norueguesas estão a ser analisadas, mas não foi possível ter resposta até ao fecho desta edição.