Escolas: as pontas soltas do confinamento

Escolas abertas mas centros de estudo e ATL fechados durante o confinamento geral dificultam a vida aos pais que não têm onde deixar os filhos em horário pós-escolar. Diretores têm pressionado o Governo. 

Com as escolas abertas e os pais a terem de ir trabalhar quando não é possível ficar em regime de teletrabalho, o confinamento geral que entrou em vigor às 00h00 desta sexta-feira, devido à covid-19, torna-se um pesadelo para aqueles que não têm onde deixar os filhos fora do horário escolar. Os centros de atividades de ocupação de tempos livres (ATL) estão obrigados a fechar portas e, por isso, a ajuda que se revelaria essencial no acolhimento às crianças depois das aulas foi colocada fora de hipótese, segundo indica o decreto-lei – após o diploma de preparação sublinhar inicialmente que os ATL poderiam manter-se abertos. Há, porém, quem tenha esperança de uma correção no documento e, por isso, ainda tenha estado aberto esta sexta-feira, mesmo em incumprimento das medidas restritivas contra a pandemia.

Segundo o Nascer do SOL conseguiu apurar, pelo menos um ATL do distrito de Setúbal manteve o funcionamento no primeiro dia de confinamento, com a direção à espera de uma reação – não conhecida até à hora de fecho desta edição – por parte do «centro distrital» para saber se pode continuar aberto ou não. «Ou sai uma correção ao decreto-lei ou então temos mesmo de fechar, porque hoje [sexta-feira] estamos em incumprimento. Temos mesmo de obedecer ao que está estabelecido», revelou a diretora desse centro de atividades. Nesse sentido, há «uma série» de petições, com milhares de assinaturas, que foram criadas contra o fecho destes estabelecimentos, bem como de centros de estudo, que ficam igualmente de portas encerradas.

Crianças ‘não podem’ ficar sozinhas

Com os centros de estudo e os ATL encerrados, as crianças terão de ficar, depois das aulas, nos recreios das escolas, sozinhos em casa ou então ir para casa de familiares – situação que não é aconselhada pela Direção-Geral da Saúde devido à junção de núcleos familiares –, dado que muitas delas não estão inscritas nas atividades de enriquecimento curricular (AEC) ou nas componentes de apoio à família (CAF) que funcionam dentro de escolas públicas e, por isso, se mantêm a funcionar.

A este semanário, o presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), Jorge Ascenção, salientou que as crianças com menos de 12 anos têm de estar «seguras» e ter os apoios necessários.
«São muitos ATL. Percebo que possa haver alguma limitação. Mas em algumas situações são crianças ainda muito dependentes e que ainda não têm muita autonomia, nomeadamente até aos 12, 13 e 14 anos. Por isso, terá de haver uma resposta. O que nós estamos a fazer é insistir para que os ATL continuem abertos. Há aqui uma responsabilidade do Estado para se obter uma resposta para que as crianças possam estar em segurança e ao cuidado de alguém», adiantou, acrescentando que também as próprias instituições têm de forçar a nota com as respetivas tutelas.

«As próprias instituições devem questionar a respetiva tutela: as que são IPSS, a Segurança Social, e algumas o Ministério da Economia, porque são privadas e dependem desse ministério. E têm de questionar», reforçou Jorge Ascenção, que, apesar disso, admitiu que as salas de estudo para jovens mais autónomos possam eventualmente estar fechadas. «Os mais crescidos conseguem ter mais autonomia, mas há situações muito complicadas. Os pais estão a contactar-nos constantemente porque estão cheios de dúvidas, apreensivos e preocupados. Não sabem onde deixam os filhos. Tem de haver uma solução, até no âmbito da Comissão Nacional de Proteção de Jovens», concluiu.

Mais testes e prioridade na vacinação

Os diretores de turma concordam com a decisão do Governo de manter as escolas abertas durante o confinamento, mas dizem que não basta deixar os estabelecimentos abertos. Falam em medidas adicionais para controlar o contágio da covid-19. Para tal, sugerem testes rápidos nas escolas e prioridade para os profissionais de educação no que toca à vacinação, quando chegar a hora de serem vacinados os serviços essenciais.

«Há que lembrar o primeiro-ministro, António Costa, da chegada às escolas dos testes rápidos ou de antigénio. Na quarta-feira, ele ressuscitou um anúncio que fizeram, em outubro ou novembro do ano passado, e que foi um anúncio que morreu. Ressuscitou o anúncio e espero que esse mesmo anúncio não volte a morrer, porque estes testes são importantes», começou por dizer o presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, Filinto Lima, lembrando que, no que toca à vacinação, espera que o Governo «não se esqueça» de colocar os funcionários e professores na linha da frente.

«É fácil de explicar porquê. Vamos estar na linha da frente no combate. Numa guerra é preciso dotar os guerreiros de armas, e as armas neste momento são estas: os testes rápidos e a vacinação», atirou, também à espera, desde outubro do ano passado, dos «três mil funcionários» que o Governo prometeu fazer chegar às escolas.

Petições para fechar escolas

Nos últimos dias, milhares de pessoas assinaram petições contra a abertura das escolas durante este novo confinamento, nas quais, além de ser exigido o encerramento dos estabelecimentos, é ainda referido que o Governo não tem facultado informações e procedimentos a adotar.

«Abrir as janelas da sala de aula não é uma medida adequada. Não podem apenas esperar ‘para ver como vai’. O Governo deve colocar a saúde e a segurança das crianças acima de tudo e tomar medidas rigorosas para evitar a propagação da covid-19», pode ler-se numa das petições públicas, que já conta com mais de 84 mil assinaturas.