Presidenciais. Bombeiros, vacinas e SNS no centro dos discursos

No oitavo dia da campanha eleitoral, os candidatos não ficaram alheios ao facto de o sistema de saúde estar próximo do limite.

As atenções de Ana Gomes estiveram ontem viradas para a situação dos bombeiros. A candidata visitou associações em Carnaxide e, depois, em Odivelas, mas as preocupações manifestadas foram semelhantes e dizem respeito à dificuldade de recrutar pessoal e a um sentimento de “injustiça” por não terem sido incluídos nos grupos prioritários de vacinação contra a covid-19, preocupação partilhada pela candidata a Belém.

A questão também recebeu a atenção de Marcelo Rebelo de Sousa ao garantir que o Governo quer “acelerar o processo de vacinação” junto destes profissionais, e defendeu que, por transportarem doentes, têm risco idêntico ao pessoal do INEM. O recandidato à Presidência da República visitou, por sua vez, o quartel dos Bombeiros Voluntários do Dafundo, no concelho de Oeiras, onde ouviu relatos sobre as dificuldades causadas pelos atuais tempos de espera à porta dos serviços de urgência hospitalares para a entrega de doentes.

No entanto, foi na qualidade de chefe do Estado que acabou por comunicar informações sobre a vacinação dos bombeiros, referindo que procurou inteirar-se do assunto com o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, depois de ter falado com o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Jaime Marta Soares.

“Há uma antecipação, neste sentido, há uma aceleração, na medida em que os lares estão a correr, mas há a ideia de fazer avançar. Agora é preciso ser indicado quais aqueles que têm prioridade”, reforçou.

Saúde sob pressão

Também o facto de o SNS estar perto do limite, como já admitiu a ministra da Saúde, foi alvo de críticas por parte dos candidatos. João Ferreira admitiu que pode ser necessário requisitar serviços privados de saúde para acorrer a uma situação que classificou como sendo “de emergência” no contexto da pandemia. “Todos os meios, mas todos os meios mesmo devem ser mobilizados para assegurar a resposta que seja necessária, inclusive aqueles que, estando previstos no Orçamento do Estado, ainda carecem de concretização no Serviço Nacional de Saúde, incluindo, se necessário, requisitando, como está previsto na lei, como já se fez, nos últimos meses, já por diversas vezes, também serviços privados”, afirmou o candidato comunista.

Já Marisa Matias acusou as autoridades e os poderes públicos em Portugal de terem falhado na preparação da nova vaga da pandemia, recusando acreditar em milagres, mas sim na “vontade política” de dar respostas.

De acordo com a candidata bloquista, “houve uma falta de preparação em relação ao que aí vinha e nós já sabíamos, não porque eu tenha capacidades de adivinhar o futuro, mas porque havia muitas análises de muitos especialistas, de muitos peritos em saúde pública e em epidemiologia que nos avisavam já que ainda havia momentos muito difíceis pela frente e um agravamento em vários momentos da pandemia”. 

André Ventura não ficou alheio a estas críticas e garante: “Por mim, meus amigos, os meus lábios seriam pintados de preto pelo luto que tenho pelo estado da nação. Chamemos-lhe campanha dos lábios negros porque é a forma como devemos dizer o estado em que o país está: de luto pela falta de condições na saúde, de luto pelo abandono dos nossos idosos, de luto pelo esquecimento do interior, de luto pela falta de justiça que temos, de luto por terem esquecido os portugueses de bem. Lábios negros e não lábios vermelhos, é o que temos de fazer até ao fim da nossa campanha”.

Por seu lado, Tiago Mayan Gonçalves considerou “absolutamente incompreensível” que o Ministério da Saúde ainda não tenha usado “toda a capacidade instalada de saúde existente em Portugal”, nomeadamente do setor privado e social. “A solução é evidente para todos: usar toda a capacidade instalada de saúde que temos em Portugal e que, ao dia de hoje, continua a não ser utilizada”, afirmou o candidato apoiado pela Iniciativa Liberal (IL).