Refinaria. Verdes questionam Governo sobre encerramento

Ainda esta segunda-feira o i revelou que a refinaria de Matosinhos é considerada “um ativo estratégico nacional”, numa carta das organizações representativas dos trabalhadores da Petrogal a que o jornal teve acesso.

 Os Verdes (PEV) questionou o Governo acerca do encerramento da refinaria da Galp em Matosinhos, considerando que os argumentos por parte da empresa são “falaciosos”. Para o partido ecologista, a decisão da Galp “não acautela os impactos económicos, sociais, ambientais e os desafios que coloca à soberania energética do país”, sendo uma “intenção de caráter economicista”.

Em causa está o anúncio, em 23 de dezembro, de que a Galp vai concentrar as suas operações de refinação e desenvolvimentos futuros no complexo de Sines e descontinuar a refinação em Matosinhos a partir deste ano.

A decisão afeta, segundo a empresa, 401 postos de trabalho diretos e, segundo os sindicatos, 1.000 indiretos.

O PEV defende, na missiva, que "uma decisão desta envergadura justificaria, por parte do Estado, o segundo principal acionista da Galp, a exigência de um plano concertado/concreto, devidamente fundamentado por forma a garantir a gradual e justa transição energética que se impõe".

O partido considera também que "o 'selo' ambiental e o pretexto da descarbonização […] só serviriam pois para garantir acesso a fundos públicos para a reconversão da atividade deste complexo, sem no entanto serem dadas garantias quer aos trabalhadores quer à região sobre os impactos ambientais previstos para novas atividades".

Segundo o PEV, com o anúncio da Galp fez-se "sem garantias para o futuro dos trabalhadores e para a sustentabilidade destas famílias cujas vidas ficam em suspenso".

"Os Verdes lamentam a forma como o processo está a ser conduzido pela Administração da Galp, sob clima de muita incerteza, ausência de comunicação e falta de transparência quanto ao futuro da unidade de Matosinhos e dos seus milhares de trabalhadores", referem.

Trabalhadores falam em ativo estratégico

Ainda esta segunda-feira o i revelou que a refinaria de Matosinhos é considerada “um ativo estratégico nacional”, numa carta das organizações representativas dos trabalhadores da Petrogal a que o jornal teve acesso. De acordo com os mesmos, a unidade que labora desde 1969 produz em Portugal um leque de matérias-primas que são essenciais para muitas indústrias do setor químico e farmacêutico. “Se a refinaria fosse desmantelada, estas indústrias seriam condenadas a importar, a preços mais elevados, e ficariam dependentes da disponibilidade”, acrescentando que isso terá irá trazer “consequências negativas para a balança comercial do país”. 

Em Portugal poderão deixar de ser produzidos alguns dos medicamentos, sem as matérias-primas portuguesas (benzeno, parafinas); no mundo muitos medicamentos deixarão de ser fabricados com produtos portugueses de elevada pureza (benzeno, xilenos, tolueno);  quem comprar uma garrafa de óleo alimentar deverá saber que os solventes utilizados na refinação desse óleo já não serão portugueses, mas vieram, provavelmente de Espanha; quem comprar um iogurte deverá saber que a cola hot-melt utilizada na tampa já não estará a ser produzida com ceras minerais fabricadas em Portugal”, entre muitos outros casos.

Nessa carta que vai ser distribuída à população, instituições, personalidades e a órgãos do poder político são invocados os superiores interesses locais e nacionais, bem como os lucros que o grupo Galp Energia arrecada desde a sua criação.

E como tal, pede para que a decisão da administração da Petrogal de encerrar a refinaria em Matosinhos seja revertida – mantendo a sua produção específica essencial, com os seus atuais postos de trabalho – e investimento no complexo industrial, de forma a proporcionar uma transição para novas tecnologias de produção, tendo em vista a redução da pegada de carbono de forma sustentada e a médio prazo, com adequados programas de formação dos seus trabalhadores, permitindo assim a continuidade das instalações em funcionamento, à medida que se for avançando na produção de matérias-primas realmente renováveis.