A vacina chegou!

Apareceu finalmente a vacina. Graças a Deus! E agora que conseguimos o mais importante, não desperdicemos este bem precioso…

Desde o início da pandemia covid-19, ou seja, nos princípios de março do passado ano – de má memória, pelo que se passou no mundo inteiro –, que a palavra ‘vacina’ passou a ser como que um oásis de esperança no deserto que atravessámos, sobretudo nos momentos de maior angústia e nas horas mais dramáticas que vivemos. A questão colocava-se constantemente e não havia ninguém que não fizesse a pergunta sacramental: ‘Quando aparecerá a vacina?’.
 
Efetivamente passámos todo o tempo a suspirar por qualquer coisa que nos protegesse dos ataques ferozes desse tenebroso vírus e que pusesse fim à crise sanitária e económica jamais vista no nosso tempo. Destaco o papel dos profissionais de saúde, classe à qual me orgulho de pertencer, e que, lutando afincadamente como foi possível, evitou que a tragédia atingisse maiores proporções. E presto homenagem a todos os que partiram, lembrando de forma especial quem no final da vida nem sequer teve direito ao carinho e à presença dos familiares e amigos, para os acompanhar à sua última morada.
 
Enquanto as notícias destes dramas entravam pelas nossas casas – contribuindo, em grande parte, para o pânico que se instalou –, outras, de cariz animador, começaram a surgir no horizonte, dando conta dos esforços da comunidade científica para a produção de uma vacina. E assim fomos vivendo: se, por um lado, o vírus não dava tréguas, por outro, o homem não desistia de procurar a melhor forma de o combater. Por isso, a palavra ‘vacina’ estará sempre associada a uma outra: a ‘esperança’. Esperança esta à qual nos agarrámos e que para muita gente foi a ‘tábua de salvação’.
 
Apareceu finalmente a vacina. Graças a Deus! E agora que conseguimos o mais importante, não desperdicemos este bem precioso e esta grande possibilidade de zelarmos pela nossa saúde, pelo nosso bem-estar, pela nossa vida.
Devemos estar gratos aos cientistas que conseguiram em tempo recorde produzir uma vacina – e agora cabe-nos aproveitar este bem precioso que caiu nas nossas mãos.
 
Há poucas semanas, o meu amigo Hélio Loureiro lançava nas redes sociais um pensamento que vem mesmo ao encontro da minha reflexão: «O melhor presente de Natal chegou hoje, a vacinação é uma porta de esperança». Sendo eu médico, é meu dever aconselhar as pessoas a serem vacinadas, independentemente do ruído exterior que possa existir. Se dúvidas houver, o médico assistente é a melhor pessoa para as esclarecer e o único cujo parecer devemos seguir.
 
Ninguém queira dar um passo atrás e continuar nas mãos de um vírus que, em certos casos, pode ser fatal. É preferível vencer o medo de eventuais efeitos secundários da vacina (até agora não detetados) do que ter a doença. Se estivemos este tempo todo à espera de uma prevenção eficaz, quando a temos não a queremos aproveitar? Espero que prevaleça o bom senso entre a população, e a vacinação possa chegar a todos quantos dela necessitarem.
 
Fica, no entanto, um alerta: não se pense que, pelo facto de estarmos vacinados, podemos voltar no dia seguinte ao comportamento pré-pandemia, abandonando por completo os hábitos adquiridos nesta nova normalidade. É preciso dar tempo ao tempo, pois não é de um dia para o outro que toda a comunidade adquire as defesas necessárias para evitar a doença. Daí ser necessário, por exemplo, continuar a usar máscara, manter o distanciamento social, lavar frequentemente as mãos – até se conseguir a tal ‘imunidade de grupo’ de que agora começa a ouvir-se falar repetidas vezes.
 
É bom também não esquecer que, estando a vacinação concentrada no SNS, todas as pessoas devem estar inscritas nos centros de saúde, mesmo as que têm assistência médica noutros locais ou disponham de outros sistemas de saúde. Uma coisa não invalida a outra. É uma questão de organização. O momento exige a colaboração de todos. O benefício é nosso.
 
Agora que estamos a chegar ao fundo do túnel, e a luz à nossa frente é cada vez maior, não deixemos fechar a ‘porta da esperança’ e continuemos a lutar pela recuperação (possível) daquilo que este nefasto vírus nos fez. E mesmo que a prudência aconselhe a não cantar ainda vitória, temos razões para acreditar que o sonho com a nova vida começará aos poucos a transformar-se em realidade.