Covid. Casos nos clubes, “falsos positivos” e muitas, muitas acusações

A pandemia atingiu fortemente o futebol profissional português. 17 casos fustigaram o SL Benfica, entre jogadores e dirigentes. No Sporting, falsos e verdadeiros positivos e negativos levantaram suspeitas.

A manhã de terça-feira abriu com o Benfica a anunciar 17 novos casos de covid-19 entre jogadores, equipa técnica e staff, após uma bateria de testes realizada no sábado. Entre as vítimas encarnadas do coronavírus estão Luisão, antigo jogador e atual diretor técnico e de performance do clube, e o presidente, Luís Filipe Vieira, que, devido aos seus 72 anos de idade, entra imediatamente nos grupos de risco, apesar de estar assintomático. Entre os jogadores que ficaram fora dos planos estão Vertonghen, Waldschmidt, Gilberto, Diogo Gonçalves e Grimaldo, além de Everton Cebolinha que, apesar de não estar infetado, se encontra em isolamento profilático devido ao teste positivo da sua esposa.

Já Jorge Jesus, que inicialmente testou negativo, apresentou sintomas ao fim do dia e teve de ser sujeito a nova testagem, desconhecendo-se ainda se será ou não um dos infetados no clube.

O surto de casos no Benfica levou a direção encarnada a pôr-se à disposição da Direção-Geral da Saúde (DGS) e da Liga para colocar uma pausa nos próximos jogos, garantindo em comunicado que “na defesa da saúde pública e da integridade física dos atletas envolvidos, o Benfica remete para a DGS a decisão de se apresentar em competição nos próximos 14 dias”.

A autoridade da saúde, no entanto, prontamente remeteu a questão à Liga de Clubes, afirmando não ter a competência suficiente para interferir no calendário dos jogos desportivos a não ser de uma forma coletiva. Em comunicado, a DGS afirmou que “a Autoridade de Saúde territorialmente competente, avaliadas as circunstâncias e o risco, decide sobre os jogadores que ficam em isolamento, por motivo de doença, e sobre os jogadores que ficam em isolamento profilático, por serem considerados contactos de risco. A decisão quanto ao restante plantel é da responsabilidade dos clubes desportivos”.

Sem resposta da DGS ou da Liga, no entanto, o SL Benfica garantiu a presença na meia-final da Taça da Liga, apesar dos vários casos da equipa, em que se incluem cinco jogadores. “Após ter exposto publicamente, de forma cautelar e transparente, o aumento de casos de covid na sua estrutura profissional, o Benfica não recebeu por parte das autoridades competentes – DGS e Liga de Clubes – qualquer recomendação contrária às regras até agora vigentes nas competições nacionais. Ou seja, proceder ao isolamento dos jogadores que testaram positivo e incluir no lote de atletas à disposição da sua equipa técnica todos aqueles que testaram negativo 48 horas antes da partida”, pode ler-se em comunicado.

Falsos positivos e acusações Se a segunda meia-final da Taça da Liga foi fustigada pelo excesso de casos de coronavírus, a primeira, entre Sporting CP e FC Porto, não passou sem polémica associada a novos casos.

Fora dos planos de Sérgio Conceição para a partida de terça-feira estiveram Sérgio Oliveira, Luis Díaz e Evanilson, infetados com o novo coronavírus. Já do lado do Sporting estiveram de fora Luís Neto, Nuno Mendes e Sporar. Os últimos dois foram alvo de forte polémica. Inicialmente indicados como positivos, tendo mesmo ficado fora da partida contra o Rio Ave na 14.a jornada da liga, a equipa médica do Sporting veio atualizar o boletim médico e garantir que ambos os jogadores tinham sido “falsos positivos”: após novos testes, tiveram resultados negativos à covid-19, pelo que estariam aptos para enfrentar o FC Porto.

Em comunicado, os verdes-e-brancos justificam o acontecimento, revelando a “estranheza” com que receberam os resultados positivos de Nuno Mendes e Sporar e as consequentes testagens em diferentes laboratórios que, defende o Sporting, revelaram resultados negativos, classificando os testes iniciais como “falsos positivos”. Esta realidade, no entanto, gerou polémica entre o departamento de comunicação do Sporting e a Unilabs, laboratórios encarregados da testagem dos jogadores leoninos. Citadas pela imprensa desportiva, as duas partes não encontraram consensos sobre se houve ou não erro e se os jogadores foram ou não, efetivamente, “falsos positivos”.

Ainda assim, Rúben Amorim não pôde contar com estes jogadores na partida contra os dragões, já que as autoridades de saúde vetaram a sua presença em campo, fruto dos “falsos positivos” que apresentaram nos testes de despistagem à covid-19.

Este veto nasceu após muitas horas de incerteza e apenas uma hora antes do início da partida, quando tudo indicava que Mendes e Sporar poderiam mesmo fazer parte do onze do Sporting frente ao FC Porto, estando até já as comitivas dos clubes no Estádio Municipal de Leiria.

O anúncio da vontade do Sporting de utilizar estes jogadores causou furor e levou Francisco J. Marques, diretor de comunicação dos dragões, a publicar um comunicado na rede social Twitter onde acusa o Sporting de ter intenções de cometer “um crime público” ao, alegadamente, desrespeitar as regras da DGS e o protocolo associado aos jogadores profissionais de futebol, ao pretender colocar Mendes e Sporar como jogadores aptos para o confronto. O diretor de comunicação do FC Porto admitiu ainda fazer uma queixa à DGS e à Liga, alegando “uma questão de saúde pública”, pondo ainda em causa a presença do clube na meia-final da Taça da Liga.

Ao FC Porto juntou-se nas queixas o SC Braga, que reagiu com “indignação” e “surpresa” a toda esta situação, alegando que o Sporting estaria a querer “um tratamento de exceção”.

Em resposta, os leões não demoraram a acusar o FC Porto de fazer uma “pressão inaceitável” sobre as autoridades da saúde e a Liga, fazendo um apelo à “punição” dos azuis-e-brancos. “Espera-se que o teor do comunicado oficial, pela sua gravidade, seja devidamente analisado e punido pelos órgãos jurisdicionais competentes”, pode ler-se na nota oficial do Sporting.

COVID E O MUNDO DO FUTEBOL A covid-19 tem deixado o seu rasto por todo o mundo e o futebol não foi exceção. Na Premier League, dezenas de jogos foram cancelados devido a surtos nas diferentes equipas. A título de exemplo, o Manchester City, em janeiro deste ano, chegou a ter seis jogadores infetados em simultâneo.

Figuras como Cristiano Ronaldo, Mbappé, Di María, Pogba, Neymar e Ibrahimovic são alguns exemplos que servem para ilustrar que nem atletas com atenção médica e acesso aos melhores equipamentos fogem à pandemia.