Ferro Rodrigues afirma que voto no domingo é um ato de “resistência” contra o vírus. Apelo gera debate

Presidente da AR diz que adiamento das eleições presidenciais não era “compreensível” e diz que o voto é uma resistência “contra o vírus e o medo, e contra os que deles se querem aproveitar”. Nem todos concordaram com as palavras de Ferro Rodrigues, que é já um dos assuntos mais falados no Twitter. 

O presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, considerou, numa mensagem de vídeo dirigida aos portugueses, que o voto nas presidenciais é uma forma de “resistência ao vírus” e que seria “inadmissível” uma possível “suspensão” deste ato eleitoral devido à covid-19. O apelo já está a dar que falar.

“Votar é uma obrigação indeclinável que as circunstâncias atuais não tornam impeditiva, como pudemos verificar no passado domingo, com a alta participação de quem exerceu antecipadamente o seu voto. Votar é uma das formas de defender a República e a democracia. Votar é também uma forma de resistência”, disse, frisando que o voto é uma resistência “contra o vírus e o medo, e contra os que deles se querem aproveitar”.

Ferro Rodrigues lembrou que o Presidente da República “representa a República Portuguesa, garante a independência nacional, a unidade do Estado e o regular funcionamento das instituições democráticas”, e é “por inerência, comandante supremo das Forças Armadas”.

 “Votar é um direito, mas é também um dever cívico, assente numa cidadania ativa e responsável, e cuja manifestação nos une enquanto comunidade nacional, independentemente de em quem escolhemos votar”, disse.

“Presentemente enfrentamos uma pandemia, que se tem revelado devastadora a vários níveis, e encontramo-nos submetidos a um estado de emergência que nos impõe um dever cívico de recolhimento”, apontou, frisando que, face à crise sanitária que vivemos, “algumas vozes sugeriram que o ato eleitoral fosse, por isso, adiado, o que não é possível nos termos constitucionais”.

“Nem esta circunstância pode ser alterada, visto estarmos confrontados, desde logo, com a proibição constitucional de praticar atos de revisão constitucional na vigência de um estado de emergência. E adiar para quando?”, questiona.

“Face à evolução da pandemia, esse adiamento teria de ser para uma data indefinida, certamente longínqua, o que não é compreensível, nem mesmo admissível em democracia”, considerou, destacando que nunca foi admitida a suspensão do funcionamento pleno da Assembleia da República como órgão de soberania, e “muito menos” se poderia admitir a suspensão de quaisquer atos eleitorais.

“Enquanto presidente da Assembleia da República, e em nome desta, apelo a que, no próximo domingo, as portuguesas e os portugueses exerçam o seu direito de voto, respeitando as regras sanitárias em vigor”, defendeu.

Contudo, nem todos os portugueses parecem estar de acordo com as palavras do presidente da AR. Em poucas horas, várias foram as pessoas que decidiram partilhar a sua opinião nas redes sociais, deixando críticas a Ferro Rodrigues. O assunto já é um dos mais falados no Twitter.

“Muita gente com alguma idade e que tem problemas de saúde, que votaram sempre, estão com muito medo de o fazerem agora, agravado com as filas de horas que viram na TV no ultimo domingo, e este [Ferro Rodrigues] vem dizer isto”, escreveu um utilizador no Twitter. “Como é que votar é uma forma de resistência ao vírus?”, questionou outro. “Não, Ferro Rodrigues, ir votar não mostra resistência contra vírus nenhum”, lê-se noutra publicação.

“No dia em que se fecham escolas porque SNS colapsou, presidente da AR apela ao voto como prova de resistência contra vírus. Ferro Rodrigues preside ao órgão de soberania com competência para organizar processo eleitoral. Podia ter evitado a barraca de dia 24”, criticou ainda uma utilizadora.