Escolas de portas fechadas

Governo anunciou o encerramento das escolas – públicas e privadas – durante 15 dias para combater a pandemia de covid-19. Não haverá aulas online e este período só depois será compensado.

Escolas de portas fechadas

Quinze dias de portas fechadas a cadeado: é este o cenário definido pelo Governo para as escolas a partir desta sexta-feira, devido à pandemia de covid-19: as aulas ficam suspensas – não haverá, por isso, professores a lecionar através de plataformas online – e este período será compensado posteriormente, nas férias de Carnaval, Páscoa ou de verão, conforme a decisão que ainda será tomada pelo Ministério da Educação. As refeições para crianças que beneficiem da Ação Social Escolar vão continuar, no entanto, a ser entregues e as escolas de acolhimento vão receber também os filhos com idade igual ou inferior a 12 anos cujos pais trabalhem em serviços essenciais, bem como as crianças do ensino especial, no que toca às suas atividades.

Ao Nascer do SOL, o presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais, Jorge Ascenção, sublinhou que esta é uma medida que acabou por ter de ser tomada e que, nesse sentido, já havia enviado um documento ao Governo, há poucos dias, precisamente a sugerir estes moldes anunciados, garantindo a ideia de que o ensino à distância «nunca funcionou».

«Parecia inevitável esta decisão política do encerramento das escolas. E, nesse sentido, enviámos uma nota com antecipação de férias, porque a nossa preocupação sempre foi o impacto que o ensinamento tem na vida das crianças e dos jovens – ou seja, antecipar algumas férias, do Carnaval ou da Páscoa, sabendo-se que o ensino à distância não funciona e conseguindo ganhar o tempo presencial que estava previsto», sublinhou. Nesse sentido, o presidente da Associação de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, Filinto Lima, referiu a este semanário que os especialistas de saúde «não deram outra opção» ao primeiro-ministro.

«Acho que é a opinião convergente e quase unânime dos peritos de saúde e nós sempre dissemos que este é um momento da ciência, e não da política. Se os peritos dizem que o melhor é encerrar as escolas, então que seja», salientou, dizendo que, caso seja necessário adotar o ensino à distância depois destes 15 dias, isso não é o ideal, apesar de ser um «mal menor». «O ideal é estarmos todos nas escolas e o ensino online tem muitos constrangimentos, sobretudo entre os mais novos, mas foco-me no que disserem os especialistas», adiantou.

Já o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, defendeu que estas novas circunstâncias justificam o encerramento, dado que a propagação da variante britânica tem vindo a intensificar-se em Portugal, «Quando o Governo decide 15 dias é nitidamente para tentar encontrar um equilíbrio entre a necessidade de fechar devido à progressão acelerada da pandemia e a preocupação de não estragar o ano letivo», explicou aos jornalistas esta sexta-feira, em Vila Nova de Gaia.

 

Escolas privadas também encerram

Apesar de as escolas privadas não terem ligação direta com o Estado, «fazem parte do sistema educativo». E é por isso que também têm de fechar. Ao Nascer do SOL, Jorge Ascenção explicou que tanto as escolas públicas como as privadas têm de encerrar.

«A mobilidade que provoca uma escola pública é igual à dos privados. E se calhar vão muitos mais pais levar os filhos à escola do que na pública. A medida é que a atividade letiva fechou para férias. Não me passa pela cabeça que não se incluam os privados», esclareceu.

 

‘Escolas não são foco principal’

A Federação Nacional dos Professores (Fenprof) considera o encerramento das escolas inevitável, mas tardio. No entanto, na comunicação ao país desta quinta-feira, António Costa defendeu que as escolas «nunca foram» um foco principal de contaminação da covid-19 e que, no caso do encerramento das escolas, se trata de medidas «complementares e não substitutivas de quaisquer outras». Nesse sentido, Jorge Ascenção quis deixar claro que esse facto foi um «mito» que se criou, esperando que esta decisão de encerramento não leve as pessoas a facilitar no que diz respeito às regras de confinamento geral.

«Ninguém consegue dizer que as escolas são o perigo. Porque a informação que me chegou é que, em Inglaterra, as escolas estiveram encerradas durante 15 dias e a curva epidemiológica não desceu», atirou, dizendo mesmo que qualquer dia vamos ter de fechar os supermercados e teremos pessoas em casa a passar fome. «Passou-se a ideia de que as escolas fechadas é sinónimo de as pessoas poderem ir para a praia. E não é assim», disse. Filinto Lima foi mais longe e espera que, com estas novas medidas, as pessoas não pensem que passámos a viver num «mundo maravilhoso».

«Não gostaria que as pessoas criassem a falsa ilusão ou a falsa expetativa de que, encerrando as escolas, a partir de agora, este vai ser um mundo maravilhoso e que já não há vírus. Eu temo que se possa passar para a opinião pública que o encerramento das escolas poderá ser a solução para tudo. E não queria que isso acontecesse», reforçou.

 

Apoio para os pais e famílias carenciadas

As famílias com filhos com idade inferior ou igual a 12 anos vão receber apoios do Estado durante o encerramento das escolas e as faltas ao trabalho também serão justificadas._Estas foram medidas também referidas por António Costa esta quinta-feira, lembrando que se trata de um apoio idêntico ao que foi dado no primeiro confinamento, em março do ano passado. Os pais «terão faltas justificadas ao trabalho, se não estiverem em teletrabalho», e o apoio corresponde a 66% da remuneração.

 

Creches e ATL fechados

À semelhança do que acontece nas escolas do ensino básico e secundário, tanto as creches como os centros de atividades de tempos livres (ATL) vão ficar encerrados durante 15 dias. Depois, as medidas serão reavaliadas, embora haja uma reavaliação do estado de emergência, que termina dia 30 de janeiro.