Tenho medo das minhas intuições. No sábado passado escrevi que «a Constituição é uma espécie de Boi Ápis, de Bezerro de Ouro, que nos obrigam a adorar».
Devia ter escrito antes que ‘a Constituição é um bezerro de ouro que o PCP, com a cumplicidade ou o servilismo dos outros partidos, nos obriga a adorar’.
‘Adorar’ era a palavra-chave que me revelou o que eu intuía mas de que não tive imediatamente consciência. Sempre me intrigou a obsessão com que o PCP se empenha em impedir que se toque, mesmo ao de leve, na Constituição (até quando, como agora, o vírus não espera que se cumpram os seus trâmites para matar).
Para lá do interesse óbvio de poder manter o seu projeto de bloqueamento da democracia e do desenvolvimento do país, tinha de haver uma outra dimensão, que só podia remeter para mitologias obscurantistas de seita. ‘Bezerro Sagrado’, chamei-lhe eu e acertei em cheio! ‘Sagrada’, eis a resposta.
Comentando o que escrevi, um leitor qualificado contou a alguém o que transcrevo:
«‘A Constituição foi o Plano B do Cunhal’ – esta frase ouvi eu e mais quatro pessoas, duas ainda vivas, da boca do Octávio Pato (em 1975 fui o subdelegado do Ministério do Trabalho em Vila Franca de Xira, e contactei variadíssimas vezes com o Octávio)».
Obscurantismo, fanatismo, é isso que tem vitimado Portugal. Seitas com reduzida expressão eleitoral, mas com o apoio deste PS degenerescente e invadido pelo BE.
Obscurantismo, como o de Trump.
Erros crassos, atrasos intoleráveis nas medidas e decisões, omissões gritantes, incompetência e negligência recorrente no apuramento ou na divulgação de dados essenciais. E um primeiro-ministro transformado em porta-voz da DGS e do Governo, em vez de estar no gabinete a pensar, a procurar soluções, ideias proativas, a comandar os ministros (o que andarão eles a fazer?) e a coordenar o gabinete de crise no combate ao inimigo.
E com hospitais, médicos, enfermeiros e todo o pessoal de saúde a rebentar, gente a adoecer e a morrer sem parar, com todos os especialistas cada vez mais perplexos, são inevitáveis as teorias de conspiração…
De uma coisa estou convencido: todos os partidos estão com medo de que se verifique uma votação determinante em André Ventura. Têm terror de que os portugueses que vieram a desistir de votar vão agora às urnas e votem em Ventura.
E, perante a tragédia e o silêncio cúmplice dos partidos, perante o ‘pântano’ que se criou, até mesmo muitos que não concordam com as suas soluções nem se identificam com o seu estilo (mas não terá outro antes de crescer eleitoralmente), desejarão intimamente que tenha um bom resultado.
Muitos dos que não votarão nele desejarão que o descontentamento que ele exprime, a doença que ele identifica, tenha expressão.
Que outra forma há de protestar?
Quando o desespero vence o medo, vem a revolta. Que aí está. Ouçam o Opinião Pública nas televisões. O Chega é um sintoma, uma primeira manifestação da vaga incontível que aí vem.
O atual Presidente da República tem o destino dos portugueses nas mãos, nas mãos da coragem que agora tiver. Mas mesmo quem é seu amigo começa a recear que não a tenha.