Não digas ao Rei que ele vai nu

Uma tailandesa foi condenada a 43 anos de prisão por partilhar criticas à monarquia nas redes sociais. Analistas temem que seja uma forma de controlar protestos de ativistas.

Uma antiga funcionária pública, Anchan Preelert, foi condenada a mais de 43 anos por um tribunal tailandês por ter publicado criticas à família real na internet.

Nunca uma sentença por insultar a família real foi tão severa na Tailândia, disse a advogada da acusada, Pawinee Chumsri, à Reuters, e podia ser ainda pior. Inicialmente, Preelert foi condenada a 87 anos de prisão, mas uma vez que reconheceu que foi responsável por publicar clips de áudio no Facebook e no Youtube a criticar o governo, a pena foi reduzida para cerca de metade.

A Tailândia possui uma das mais punitivas leis contra a difamação de membros da família real: a lei da lesa-majestade, que pode resultar numa pena até 15 anos de prisão.

Ainda esta semana, na segunda-feira, um homem, que tinha sido detido em 2014, foi condenado a mais de quatro anos de prisão por ter publicado artigos na internet com insultos à família real.

 

Um aviso

Analistas acreditam que a pena atribuída a Preelert não foi um acaso, mas sim um preocupante aviso do que está para vir. A lei da lesa-majestade estava suspensa desde 2018 e o seu regresso, no ano passado, coincidiu com uma onda de protestos onde jovens ativistas condenam os hábitos do primeiro-ministro e da família real, uma das mais ricas da história recente do país, e exigem melhores condições de vida.

As principais reivindicações são a demissão do primeiro-ministro de Prayuth Chan-ocha, um antigo general que chegou ao poder através de um golpe militar, uma nova Constituição, reformas no regime monárquico (embora sem sua abolição total), mais liberdades pessoais, uma renovação do sistema de educação e a defesa da igualdade de género e da comunidade LGBT+.

O ‘lagarto gigante’ que reina num palácio alemão

Dizer que a corte tailandesa vive de uma forma luxuosa seria um eufemismo. O Rei Maha Vajiralongkorn, de 68 anos, vive em Banguecoque, capital da Tailândia, mas passa a maior parte do seu tempo fora do país, nomeadamente na Alemanha, onde divide a sua residência entre uma mansão, em Munique, ou num hotel de luxo nas montanhas de Garmisch-Partenkirchen.

Durante a pandemia, Vajiralongkorn esteve mais tempo neste país do que na Tailândia a governar.

Esta negligência inflamou os ânimos dos manifestantes que acusam o monarca de ser um «lagarto gigante», um dos piores insultos neste país, escreve a Deutsche Welle.

Desde novembro do ano passado, já foram presas, acusadas de lesa-majestade, cerca de 50 pessoas, um duro golpe no movimento de protestos que, também devido a novas restrições devido ao aumento de casos de infeção de coronavírus, foi perdendo a sua força.