Portugal socialista

Durante o período revolucionário subsequente à abrilada, uma delegação do MFA deslocou-se a Estocolmo, tendo-se encontrado com responsáveis governamentais locais.

Ingenuamente convencidos de que a social-democracia sueca assentava nos mesmos princípios já então apregoadas pela esquerda radical aqui do burgo, os nossos garbosos militares, inchados de orgulho, deram conta dos propósitos da revolução em curso: acabar com os ricos!

Como resposta, ouviram da boca dos seus interlocutores o seguinte comentário: “Pois nós estamos a procurar fazer exactamente o contrário, ou seja, acabar com os pobres!”

O socialismo tem a sua génese no conceito egoísta e invejoso de que temos que ser todos iguais. Se uns não têm, então os outros também não podem ter!

Não sendo possível acabar com os pobres, porque tal pressuposto não passa de uma utopia da qual até já os mais exacerbados socialistas se deram conta, então acaba-se com os ricos! Passamos todos a ser pobres.

Se não conseguimos nivelar por cima, porque os nossos escassos recursos a isso não o permitem, nesse caso nivele-se por baixo! O importante é que a todos seja garantido o mesmo estatuto, por mais rasteiro que ele seja, independentemente das habilitações escolares e profissionais de cada um e das suas capacidades cognitivas e de desembaraço físico e mental.

Quando há vinte e tal anos estive em Cuba pude verificar, in loco, que o médico afecto ao Hotel onde me encontrava, que nos assistia na doença, recebia um salário igual ao do empregado de mesa, que nos servia às refeições.

Ao primeiro, mal-grado os anos em que se dedicou com distinção aos estudos, está-lhe reservada a mesma compensação do que ao segundo, que não se quis dar ao trabalho de desenvolver os seus conhecimentos doutrinais e técnicos. 

É isto o socialismo.

Esta é a realidade vigente em todos os países que experimentaram as maravilhas do socialismo. A extrema pobreza que, progressivamente, se foi abatendo sobre as famintas e desesperadas populações.

Um exemplo gritante, bem demonstrativo do real falhanço das ideias que fervilharam na cabeça de Marx, é a Venezuela.

Até então um dos países mais ricos do mundo, sem dúvida o com maior desenvolvimento social e económico da América Latina, daí a forte imigração que recebeu, em particular a portuguesa, deixou-se enveredar pela magia do socialismo e, em menos de vinte anos, alcançou a mesma pobreza que condenou à miséria os povos dos outros países da região que quiseram também abraçar os ideais marxistas, como Cuba, Bolívia e Nicarágua.

Portugal parece querer seguir o mesmo caminho que tem sido percorrido pelos venezuelanos nas duas últimas décadas. Dependente da generosidade da esquerda radical para se manter no poder, Costa tem cedido aos admiradores de Marx e de Lenine em matérias fundamentais para a progressão social e económica do País.

O socialista, como invejoso e preguiçoso que é, abomina a iniciativa privada e por dois motivos: porque tem inveja daqueles que obtiveram mais do que ele, mesmo que o tenham alcançado por se terem esforçado e dedicado mais do que ele na prossecução desse objectivo; e porque, sendo molengão e adverso ao trabalho, prefere encostar-se às facilidades que o Estado lhe concede, sabendo que no funcionalismo público não se vê forçado a empenhar-se com rigor para poder ser recompensado na sua labora, por mais deficiente que esta seja.

Por isso os socialistas só falam no Estado, visto, segundo a concepção daqueles, como o melhor empregador e o único patrão que zela pelo conforto e bem-estar dos seus trabalhadores.

Para eles qualquer empresário privado tem apenas como objectivo enriquecer à custa da exploração dos seus empregados, cometendo o crime capital de com estes não partilhar todo o seu lucro.

É dentro desta visão distorcida e desfasada da realidade que Portugal tem sido governado nas últimas décadas, mas com maior incidência nos derradeiros cinco anos, motivo pelo qual, apesar das promessas dos revolucionários de Abril, que nos procuraram convencer de que o seu maior propósito era o de desenvolver o País e dotar os portugueses de condições de vida idênticas às dos povos mais ricos, nos mantemos na cauda da Europa e já ultrapassados pela generalidade dos antigos protectorados soviéticos.

As empresas são atrofiadas com impostos cada vez mais insuportáveis e com leis laborais demasiado permissivas para quem não quer produzir, resultando, esse desvario ideológico, em baixos salários e na contenção da contratação de trabalhadores, aumentando, assim, o desemprego, principalmente entre os jovens que procuram o seu primeiro emprego.

Recentemente fomos confrontados com mais dois exemplos bem elucidativos de como os socialistas, fruto da sua cegueira ideológica, condicionam a vida dos portugueses.

O primeiro foi na Saúde.

Fomos abençoados por uma ministra que bebeu na cartilha de Marx os ensinamentos que quer impor à força no sistema de saúde nacional, insistindo na completa estatização dos cuidados médicos, tanto ao nível da prevenção como do tratamento, que a todos devem ser garantidos.

Incapaz e plenamente incompetente para o desempenho de funções no cargo que exerce, em particular durante um dos períodos mais dramáticos para a saúde pública de que somos testemunhas, virou as costas à medicina privada, na senda dos princípios marxistas que conscientemente pratica, e quis gerir o controlo da pandemia com o exclusivo recurso ao sobrecarregado e esgotado serviço nacional de saúde.

Os resultados desta criminosa política estão à vista de todos: Portugal lidera a tabela mundial com maior percentagem de mortos por Covid-19, para além do registo de mortes por outras doenças ser o maior desde que esses dados começaram a ser averbados.

Não contente, e sem que tenha aprendido absolutamente nada com os seus grosseiros erros, determinou a administração das vacinas de prevenção do vírus apenas e só nos hospitais públicos, desprezando toda uma rede de saúde privada, que se estende por todas as parcelas do território, decisão essa tomada com base exclusiva na cegueira ideológica que lhe obtura as vistas.

Como consequência dessa teimosia, o processo de vacinação decorre a conta-gotas, prevendo-se, por este andar, que uma percentagem significativa da população portuguesa seja vacinada somente quando a doença já tiver sido erradicada!

O segundo exemplo foi na educação.

Ao contrário do solenemente prometido por Costa, o governo não conseguiu dotar as escolas e as famílias de computadores em número suficiente para que os mais novos possam aprender a partir de casa, quando confrontados com o encerramento dos seus estabelecimentos de ensino.

Vendo-se, agora, de novo na contingência de fechar as escolas por causa do vírus que nos aflige, o governo, através do seu ministro de educação, também ele um socialista convicto, proibiu o ensino à distância, com o argumento de não estarem reunidas condições de igualdade para todos os alunos.

Pelo segundo ano lectivo consecutivo, aqueles que querem e precisam de aprender, para que tenham o seu futuro assegurado, vêem-se privados da estabilidade necessária para que a sua aprendizagem progrida, estigma que lhes poderá trazer consequências nefastas nos próximos anos escolares.

Mas o ministro, não ignorando as suas convicções políticas, não se limitou a impor restrições ao aperfeiçoar de conhecimentos nas escolas públicas, estendendo a proibição de se estudar em casa, com o auxílio dos professores, ao ensino privado.

Se há alunos que não têm possibilidade de receber aulas a partir dos seus lares, por não possuírem os meios materiais que o permitam e que o governo em vão lhes prometeu, nesse caso essa faculdade igualmente terá que ser coarctada àqueles cujos pais fizeram sacrifícios para que não lhes faltassem essas ferramentas.  

Na deformada mente dos socialistas, as escolas privadas existem apenas para acolher os filhos dos ricos, criando-se, segundo o seu limitado raciocínio, situações de desigualdade com os que nasceram no seio de famílias que atravessam carências económicas.

Nada mais falso. Conheço muitas famílias, e com quem privo, que nunca abundaram em dinheiro, muito pelo contrário, no final do mês têm que contar todos os tostões para pagarem as suas contas, mas que fazem um esforço financeiro de muito sacrifício pessoal para oferecerem um colégio privado aos seus filhos, assegurando-lhes, dessa forma, uma instrução de maior qualidade.

Mas este ministro, que num governo decente nem sequer teria assento num qualquer gabinete burocrático de somenos importância, confunde igualdade com equidade, vício característico de quem ainda sonha com Marx, querendo tratar por igual os que se encostam, mesmo que o façam por manifesta incapacidade de contrariar esse comportamento, e os que buscam o sucesso não se conformando perante as adversidades que encontram pela frente.

É neste Portugal socialista que estamos condenado a viver, com a passividade de um povo que se acobarda e opta pelo silêncio enquanto os seus governantes apostam em o empobrecer mais a cada dia que passa.

Um povo recheado de masoquistas que, livremente e sem que para tal sejam coagidos, insiste em depositar o seu voto nos mesmos que o têm vindo a desgraçar, conforme ficou evidente nas recentes eleições presidenciais, nas quais cerca de 20 % daqueles que se dignaram a comparecer ao sufrágio optaram por colocar uma cruz nos candidatos da esquerda radical.

Os portugueses, mais cedo ou mais tarde, sob pena de nunca virem a saber o que é viver com conforto, vão ter que escolher entre o socialismo e o progresso.

Os dois, em simultâneo, não passa de uma utopia!

Pedro Ochôa