Casos na PSP “a subir em flecha” : “Se isto continuar, não há pessoal para estar na rua”

Infeções nas esquadras “a subir em flecha” preocupam sindicatos, que, com o reforço da fiscalização nas ruas, exigem alteração de horários, mais testes à covid-19 e prioridade na vacinação.

As esquadras da Polícia de Segurança Pública (PSP) têm sido cada vez mais fustigadas pela pandemia de covid-19. De norte a sul do país, existem cerca de 700 agentes da PSP infetados, de acordo com os dados revelados pela Associação Sindical dos Profissionais de Polícia (ASPP/PSP). Entre infetados e em isolamento, são aproximadamente 300 aqueles que se encontram nessa situação só no Comando Metropolitano de Lisboa, apurou o i. E a questão principal que tem pairado na cabeça destes profissionais continua sem a resposta adequada, dizem. “Como vão querer pessoal para fiscalizar o confinamento se o número de infetados está a subir em flecha e nada muda?”, questionam. Ao i, o presidente da Organização Sindical dos Polícias (OSP/PSP), Pedro Carmo, sublinhou que os casos de infeção por covid-19 têm aumentado significativamente nas esquadras da PSP e que “há departamentos em que metade do efetivo não está ao serviço”. E pede ao Governo que tenha em atenção esta situação.

“Foi pedido para serem reforçadas as medidas de fiscalização, o que é mais do que normal atendendo à situação em que nos encontramos, mas nestas circunstâncias não vai haver fiscalização com coerência se houver um elevado número de infetados”, começou por dizer, lembrando que o despacho enviado pelo Governo para combater a covid-19 não ajuda, de todo, a travar os contágios.

“Propusemos o horário espelho. E a direção nacional da PSP responde com um despacho que coloca o pessoal dos serviços administrativos a trabalhar no serviço administrativo e em serviço patrulha para reforçar as esquadras. Ou seja, aumentou ainda mais o contacto entre o pessoal. Trabalhamos por turnos, de 6 e 8 horas, em que toda a gente se cruza. Se ainda vamos adicionar o pessoal do serviço administrativo ainda há mais contágios. É completamente incoerente”, reforçou.

Para Pedro Carmo, o horário espelho é fundamental para trabalharem três grupos seis dias e outros três noutros seis. Assim, diz, não existe tanta possibilidade de contagiar nas esquadras. “Mesmo se houvesse um contágio num grupo, basicamente sobram cinco pessoas, três que estão em casa sem covid-19 – não quer dizer que não possam contrair na rua – e os outros dois fazem a rendição àquele grupo. Assim conseguíamos reduzir o risco de contágio, em vez de estarmos a rodar a esquadra inteira uns com os outros. Continuamos a insistir nisto, mas ainda nada foi feito”, atirou.

‘polícias também são pessoas’ Nestes tempos difíceis que Portugal atravessa, com quase 300 mortes por dia devido à covid-19, o presidente da OSP/PSP defende também que os polícias têm de ser tratados de outra forma para evitar que alguns serviços entrem em colapso.

“Não há dia nenhum, em lado nenhum, que não se saiba que há dois, três ou quatro infetados. Se precisam da polícia e se, neste momento, a polícia é crucial para a fiscalização daquelas pessoas que continuam sem perceber que isto está mau, temos também de precaver os polícias para que consigam responder às necessidades”, explicou, acrescentando que “os polícias também são pessoas”.

“Já que o pessoal operacional não pode fazer teletrabalho, tem de se perceber e ter a consciência de que não serve apenas mandar os agentes para a rua. Se isto continuar, não há pessoal para estar na rua. E se os agentes da PSP ficarem doentes, não podem fiscalizar. Além disso, a fiscalização podia também ser gerida de outra forma. Tem de haver estratégias definidas de quantos saem para fiscalizar. E isso também não é igual em todas as esquadras”, rematou.

Falta de testes na PSP Com a evolução do quadro pandémico no efetivo policial, a ASPP/PSP mostrou igualmente preocupação no que diz respeito à falta de testes de diagnóstico para a covid-19 realizados aos agentes da PSP, sublinhando que os polícias “não são imunes”.

“A falta de testes aos profissionais de segurança esconde ainda mais os números reais de polícias assintomáticos que podem estar em contacto diário com a população”, avançou a associação numa nota divulgada, sugerindo, por isso, que as forças de segurança passem a ser prioritárias no que toca à vacinação. A ministra da Saúde, Marta Temido, explicou esta segunda-feira, porém, que o plano de vacinação deverá manter-se como inicialmente. Nesse sentido, só no início da próxima semana, quando terminar a primeira fase de vacinação, é que os polícias vão começar a ser vacinados.

Direção nacional fala em procedimentos atualizados Questionada pelo i em relação ao crescimento do número de infetados nas esquadras policiais, a direção nacional da PSP ressalvou que, de acordo com o conhecimento que se foi tendo da covid-19, “foram atualizados os procedimentos a adotar pelo efetivo policial, que ocorre sempre que necessário”. Explicou também que foi desenvolvido um plano de contingência nacional em todos os Comandos, na unidade especial de polícia e nos serviços sociais da PSP.

“No contexto desse plano têm sido adotadas todas as medidas de mitigação de risco a par da necessária manutenção de níveis de operacionalidade e capacidade de resposta adequados ao manancial de responsabilidades e funções da PSP”, concluiu.