Pedido de ajuda internacional tratado com militares alemães

Delegação de especialistas alemães está em Portugal para “analisar” situação. Missão chegou a Portugal e esteve em vários hospitais, mas Ministério da Saúde não confirmou pedido de apoio.

Ao final do dia sabia-se que uma delegação de especialistas alemães já tinha começado a visitar hospitais portugueses, tendo começado pelo Amadora-Sintra – num dia marcado ainda pela crise na sobrecarga da rede de oxigénio e transferência de doentes – mas confirmação oficial de um pedido de apoio externo ou de uma qualquer missão exploratória não existiu por parte do Ministério da Saúde ou do Governo. “Todas as hipóteses estão a ser consideradas no sentido de continuar a assegurar os cuidados de saúde aos portugueses. Num quadro de apoio externo, os mecanismos de cooperação europeia são obviamente uma possibilidade, em função da evolução que se vier a verificar”, esclareceu pela manhã o Ministério da Saúde, não revelando se tinha havido contacto com algum país em concreto. Pouco depois, o secretário de Estado da Saúde António Lacerda Sales disse que o pedido de ajuda internacional estava a ser equacionado mas ainda não tinha sido formalizado completamente. Durante a tarde, a agência Reuters – de alcance mundial – confirmou que havia conversações entre Portugal e Berlim, confirmadas por um porta-voz do ministério alemão dos Negócios Estrangeiros alemão. Mais detalhes chegaram pela revista alemã Der Spiegel, também citando fonte oficial do Governo alemão. Segundo a publicação, a abordagem foi feita pelo Governo português à ministra da Defesa alemão Annegret Kramp-Karrenbauer no fim de semana, confirmou ao Der Spiegel um porta-voz do Executivo alemão. Os especialistas militares foram enviados a Portugal para “explorar a situação no terreno e tentar clarificar que tipo de apoio é necessário e fazível”, lia-se na publicação, que descrevia uma situação “dramática” no país”. No título, uma imagem: “explosão-corona”.

Segundo o i apurou, os hospitais começaram a ser informados ainda na terça-feira de que iriam receber a visita da delegação alemã. Ao Público, o presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, responsável pelos hospitais de Lisboa, disse não ter informação sobre o objetivo das visitas nos hospitais da região. “Há uma visita [de médicos alemães] organizada pelo Ministério da Saúde, mas não sei quais são os objetivos”, afirmou Luís Pisco. Esta semana, questionada pelo i sobre a necessidade de ajuda internacional, a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo respondeu que “acompanha as decisões que o Governo tomar sobre esta matéria.”

Antes da Alemanha, também o Luxemburgo tinha mostrado disponibilidade para responder a um pedido de auxílio de Portugal. Ontem questionado pelo i, o Ministério da Saúde direcionou as questões para o Ministério dos Negócios Estrangeiros. Segundo o Observador, também Espanha está a postos. O pedido de ajuda internacional foi admitido pela ministra da Saúde na segunda-feira à noite, em entrevista à RTP. Já esta terça-feira, o Presidente da República tinha dito que esta era matéria que competia ao Governo esclarecer, considerando no entanto não haver necessidade para alarmes. “Dos dados que conheço, não há, neste instante, razão que determine uma ideia de alarme social quanto à necessidade de recurso a ajuda internacional”, disse Marcelo Rebelo de Sousa. “Mas isso, naturalmente, é matéria que o Governo esclarecerá, se for necessário esclarecer, no momento em que for necessário esclarecer”, frisou. Afinal, pelo menos desde o fim de semana já existiam conversações. Na semana passada, o Secretário de Estado da Saúde disse não haver na altura planos nesse sentido e questionado pelo i o Ministério da Saúde não confirmou na semana passada se a questão estava a ser equacionada. Embora o cenário começasse a ser incontornável face ao agravamento da situação epidemiológica com os hospitais já no limite e a indicação por parte da tutela de que uma solução como a requisição civil poderia não resolver as dificuldades nos hospitais, dado que no setor privado e social também há a esta altura outros doentes internados.

O Hospital Amadora-Sintra acabou por viver a situação mais complexa e foi o primeiro a ser visitado pela delegação a alemã ainda em fase de rescaldo. Uma sobrecarga na rede de fornecimento de oxigénio obrigou a transferir 43 doentes durante a noite e madrugada de ontem e já durante o dia foram transferidos para outros hospitais 32 doentes. E surgiu uma solução até aqui inédita no combate à pandemia: o Hospital da Luz cedeu instalações e foi aberta uma enfermaria para doentes do Amadora-Sintra, com equipas enviadas do hospital que conseguiu estabilizar a rede de oxigénio, mas atingiu o limite de doentes com a atual infraestrutura, em reforço.