Janeiro termina com recorde de mortes e situação crítica em Lisboa

Diagnósticos aumentaram 22% em Lisboa na última semana, quando no resto do país houve menos diagnósticos do que na semana anterior. Incidência a 14 dias está em níveis sem precedentes: 2141 casos por 100 mil habitantes. Lisboa, Sintra e Loures são os concelhos com mais contágios. 

Recorde de contágios, de diagnósticos, de hospitalizações e de mortes. Janeiro termina com o balanço mais pesado da pandemia no país: no espaço de um mês foram diagnosticados 305 mil novos casos de covid-19 e a doença foi associada a 5785 mortes, mais do que em novembro e dezembro no conjunto, que já tinham sido os piores da meses da epidemia desde os primeiros casos de covid-19 em Portugal diagnosticados em março do ano passado. O abrandamento nos diagnósticos é agora visível mas a situação em Lisboa e Vale do Tejo permanece crítica: já com os hospitais no limite, o pico de casos ainda não chegou e está apontado apenas para a próxima semana.

No resto do país, já terá passado. Na semana passada já houve menos diagnósticos de covid-19 do que na semana anterior na maioria do país mas em Lisboa a epidemia continuou a crescer, com um aumento de 22% nos diagnósticos face à semana anterior. No espaço de uma semana, de segunda-feira a domingo, foram diagnosticados no país 83 208 novos casos de covid-19, menos do que os 86 mil na semana anterior quando foi atingido o recorde semanal de diagnósticos no país. Em Lisboa, no entanto, a epidemia continuou a crescer e foram diagnosticados 43 mil novos casos quando na semana anterior tinham sido 35 mil, enquanto que no Norte houve uma descida de 24% no total de diagnósticos, no Centro de 19%, no Alentejo de 25% e no Algarve de 19%. 

2141 casos por 100 mil habitantes em Lisboa 

A incidência acumulada de casos calculada para os últimos 14 dias tem sido um indicadores usados para acompanhar a epidemia e os números em Lisboa estão agora em patamares sem precedentes no país e que não há registo de terem sido alcançados noutras regiões europeias: na última sexta-feira a região de Lisboa e Vale do Tejo passou o patamar dos 2 mil casos por 100 mil habitantes e os números continuaram a crescer. Com os dados divulgados ontem pela DGS, que o i analisou, Lisboa atingiu uma incidência de 2141 casos por 100 mil habitantes.

A nível nacional a incidência é de 1649 casos por 100 mil habitantes, no Norte 1375, na região Centro 1728, no Alentejo 1471 e no Algarve 1082. Mas são os últimos sete dias que mostram a complexidade da situação em Lisboa: a região regista uma incidência acima de mil casos por 100 mil habitantes nos últimos sete dias, o dobro do Norte quando se usa o mesmo indicador, sendo as únicas regiões comparáveis por terem o sensivelmente o mesmo número de habitantes. Quer dizer que aquele patamar usado no final do ano passado pelo Governo para apertar medidas nos concelhos com maior risco de contágio e que assumia que acima de 960 casos por 100 mil habitantes a 14 dias um concelho estava em risco máximo agora é ultrapassado em Lisboa no espaço de uma semana.

Ontem a Direção Geral da Saúde disponibilizou, como é habitual à segunda-feira, o cálculo da incidência por município. Os dados da DGS remontam sempre à semana anterior: ontem foram disponibilizados dados para o período entre 13 e 26 de janeiro, a última terça-feira. A maioria dos concelhos do país estão em risco extremo mas agora a situação é melhor do que a que surge retratada em alguns concelhos, nomeadamente no Norte do país, e pior em Lisboa.

Tendo em conta os dados disponibilizados pela DGS e o número de habitantes por concelho é possível chegar a uma indicação de quantos casos foram diagnosticados neste período de duas semanas em cada concelho. Fazendo essa análise, conclui-se que os concelhos de Lisboa, Loures e Sintra são os que têm registado mais contágios em termos absolutos. Neste período de duas semanas foram diagnosticados mais de 10 mil novos casos de covid-19 no concelho de Lisboa, o dobro dos 14 dias anteriores. Em Sintra foram mais de 8 mil e em Loures 4354, também o dobro da quinzena anterior, o que ajuda a perceber a forte pressão que se continua a verificar nos hospitais.

A Administração Regional de Saúde adiantou esta segunda-feira ao i que ontem havia 2 989 doentes com covid-19 internados nos hospitais da região, 2 640 em enfermaria e 338 utentes em UCI (e 11 em hospitalização domiciliária). Na primeira semana de janeiro eram 1312. Esta quarta-feira, confirmaram ontem o Ministério da Saúde e o Ministério da Defesa, chega a Portugal equipa de profissionais de saúde militares da Alemanha que vão dar apoio ao país nas próximas três semanas. São especialistas em medicina intensiva e além de braços trazem material clínico (ventiladores, bombas e seringas de infusão), adiantou o Governo, que até aqui não tinha confirmado a informação avançada inicialmente pelas autoridades dos países que ofereceram ajuda a Portugal. A parte de esmagar a curva dos contágios e lidar com a pressão de doentes continua no entanto a ser um problema interno. A variante inglesa, que parece ser mais dominante em Lisboa, está a ser encarada como um dos motivos para a descida mais lenta de casos em Lisboa. Nas últimas semanas tem havido no entanto também milhares de inquéritos epidemiológicos atrasados. 

Mortalidade acima do normal há um mês

A mortalidade continua acima do esperado em todo o país mas agora também nesse indicador Lisboa continua com um cenário mais negro do que as restantes regiões. Durante o mês de janeiro houve mais 9724 mortes do que seria esperado nesta altura do ano atendendo ao histórico dos últimos cinco anos, revelam os dados na plataforma nacional de vigilância de mortalidade, que o i analisou. As causas de morte só são conhecidas com o desfasamento de um ano mas para já é possível concluir que só o mês de janeiro foi responsável por 45% das mortes associadas à covid-19 no país desde o início da pandemia.